Ao meu amigo imaginário

Hoje vamos dormir cedo.Vamos,porque não sei a que horas te deitas,nem sequer onde estás,tão pouco quem és.
Hoje vou fazer de conta que acredito no dia em que te mostras despido de mantos e nevoeiro,sim,dizem que a esperança regressa sempre do nevoeiro.
Hoje vamos desfazer a cama e ficar a conversar por telepatia durante horas,até o sol nascer,o meu despertador tocar,e a luz me fizer ver que és real.Hoje vai ser noite até mais não...
Hoje é o dia em que os sonhos não são mais que isso,mas que sabem tão bem enquanto duram.Vamos falar.
Hoje vou estender o cabelo na almofada como as princesas de antigamente e pedir-te um beijo,como ao contrário da história do sapo,conheces?
Hoje,vou planear o amanhã que não planeio cumprir,e saldar dividas antigas.Vou fazer-me mal ao te querer bem,e imaginar o impossivel de mãos dadas com o teu optimismo irritante que me faz sempre sorrir.
Hoje,vou deitar-me odiando a ideia de que tudo o que te consegui escrever cabe numa página minuscula,porque na verdade,merecias um livro só por me leres tão bem as entrelinhas.Por decifrares tão bem os meus mapas.Mal sabes tu que este é mais um...Daqueles que ninguem compreende.Daqueles tesouros que não valem dinheiro nenhum,que toda a gente procura pelas expectativas erradas,e ninguem alcança que não tu.
Amanhã vou esperar ansiosa por uma mensagem de positivismo que sei não se concretizar,porque a perfeição não existe...
Mas tu,tu podes não ser real,mas já existes bem dentro de mim.

Boa viagem

Desejo-te sem ironias uma boa viagem.Que te traga a paz que terra firme não foi capaz.
Invejo-te por poderes partir,quando o que mais quero é ficar,sem aqui estar.
Sei que te lembraste,e aposto que antes de receberes a minha carta,sabias que me lembrei.De tudo,que não foi assim tão pouco.Não escrevi e apaguei,enviei a carta por outros meios.O pensamento nunca pára,e os anos tambem não.
Quero que corra pelo melhor essa tua evolução,esse subir de escadas que ansiavas,pois tambem tive o meu.Não te sentes,quando as pernas doerem e os degraus parecerem maiores,continua.Mais vale devagar do que estagnar.Afinal o caminho é simples,é sempre a subir.
Aprende com os erros,engole o orgulho quando souberes que vale a pena,quando não valer,já sabes como se faz.
O voo é simples e barato,custa mais ver passar o avião cá de baixo.
Sem sarcasmos,desejo-te uma boa viagem.Que encontres o que cá em baixo perdeste,e cries aquilo que cá não encontraste.
Eu sei.Nós sabemos.
Há quem diga que a vida é uma caixinha de chocolates,há quem diga que é cliché...
Eu digo que a vida é um restaurante de metáforas.

Boa viagem.

Joana

Observo de longe.
Numa das mesas estás tu,embrenhada numa túnica negra,esvoaçando esse cabelo pintado de bordeaux com uma pequena trança que fizeste algures na baixa pelo meio.Estás rodeada de gente e eu penso no quão maravilhosa deves ser.No quanto quero ser como tu.O teu sorriso ilumina o bar inteiro, cujas paredes pintadas e rebeldemente assinadas pelos seus clientes não deixam transparecer muita claridade.Pareces eterna, como se o mundo necessitasse de ti para fluir,para se mover,para evoluir.
Ao longe,diria que és a menina mais simpática e humilde daquele grande grupo,é fácil para qualquer rapaz que entra apaixonar-se por ti.Esse teu sorriso desarma qualquer armadura de aço.
A tua voz doce não deixa ouvir-se pela multidão de fumo,deixa apenas um eco meloso e viciante que me leva a aproximar.
Observo de perto.
Ouvi dizer algures que o teu nome é Joana,deves ter cerca de 18,19 anos...Uma vida inteira para viver.A avaliar pela tua presença neste lugar,diria que ouves boa musica e aprecias arte.Poucas existem como tu,não fosse o teu olhar triste e melancólico mentir-me.
Timidamente abraçavas alguns dos teus amigos e beijavas-lhes a face como se tivesses medo de partir antes que lhes pudesses demonstrar o quão importantes são para ti.As suas expressões,declaram claramente conhecimento de causa.Sabem que és especial,que os amas,mesmo que não consigam provar-te da mesma forma.O seu olhar diz que te admiram.
Quando te levantaste por fim,deveriam ser cerca de 3 e meia da manhã,reparaste que te olhava como quem devora um livro em branco,e esboçaste um sorriso.Um sorriso exclusivo,não o lançaste a mais nenhum dos previligiados que estavam no mesmo espaço que tu,naquela noite,lançaste-me a mim.Nunca o esquecerei.
Dois anos passaram desde a primeira e ultima vez que tive a honra de observar o teu encanto,e sentir o teu brilho à medida que te aproximavas da porta de saída.Era um rasto de estrela em plena Terra.
Todas as semanas no mesmo dia,voltei na esperança de te encontrar,em vão.Apenas encontrei o teu fantasma,usando a mesma túnica negra e a mesma cor de cabelo que sobressaía em teus olhos.
Mas para sempre guardo a memória do teu nome,e da tua marca na minha vida.Estejas onde estiveres,serás sempre minha,inocentemente.A minha Joana.


Sei que se aqui estivesses,estarias orgulhosa de mim.Só tenho pena de não ter chegado a tempo de te mostrar o orgulho que tinha,tenho,e vou ter sempre,em ti.

A ti Joana

Falhei

Gostava que ficasses para alguem me ver chorar.
Adoro admitir quando falho,faz-me pensar que tenho poderes imaginários,já que acerto sempre.Hoje admito que falhei,falhei em tentar.
É tudo tão dificil...Quando pensamos que se vai tornar mais fácil,mesmo sabendo e estando dispostos a trabalhar mais,complica mais um pouco.E esse pouco vai aumentando até não termos forças para abrir os olhos e limpar as lágrimas.
Eu esforcei-me para que tudo fosse diferente,para me fazer acreditar que podia começar de novo,do piso zero,e finalmente aos poucos subir alguns andares.No entanto,a cada dia que passa,reparo em mais uma carga de água vinda do mesmo céu que não me abriga com o seu Sol agradavel de Janeiro.
O nosso aniversário é a altura do ano em que deviamos estar mais felizes,sempre tive curiosidade em saber por que sou excepção.Todos os anos,acontece algo que me deixa triste.
Este ano apesar de tudo,e da felicidade antecipada,estou triste.Mais sozinha que nunca,lá está,há coisas que nunca mudam.
Estou a ficar cansada...De tentar.

Era tão bom

Era bom que pudessemos esquecer,não apagar.Apagar soa a provocação,a algo forçado.Era bom apenas esquecer.Como uma lufada de ar fresco,uma ventia que nos levou uma folha que estava na secretária junto da janela.
Era bom que pudessemos apenas lembrar de coisas boas que aconteceram,mesmo que não as pudessemos ter outra vez.Porque é que doi tanto quando já não podemos?
Era bom que pudessemos escolher onde estamos no tempo,escolher uma data e estalar os dedos.Quando era pequenina acreditava tanto em magia...
Era tão bom que houvesse alguem que nos aparecesse à frente sem esperarmos e fizesse tudo aquilo que nós gostavamos que fizesse sem ser necessário pedir.Era não era?
Era tão bom sentir de novo...
Era bom que pudessemos pedir o impossivel sem esperar a desilusão,e acreditar como crianças num pai Natal que na verdade nunca chega...
Era bom haver sempre mais que uma estrada a escolher,sem ser necessário parar a meio do caminho.
Era bom saber para onde vou,e ter certeza que quando chegar...Sei onde estou.

Era tão bom voltar atrás,mas tão melhor andar para a frente...
Era tão bom...

Porque sim

Sem compromisso

Ela anda à procura de um refúgio.De um lugar para onde fugir com os pensamentos e sentir-se desejada.À procura de sexo e algo mais...Mas nem tanto.
Viagens de curta duração é o que vai alcançando,a preço baixo.Era tão mais fácil um bilhete só de ida...
Agora nada importa,a não ser o desejo,a energia,e o suor que gasta para fazê-los render.Compensar uma altura da sua vida em que tudo era sério e frio,é o que ela vai fazer.
A estrada é longa,mas a viagem promete.
E agora o que importa é aproveitar a musica,a arte,a paixão.O amor é uma criança que a usou como um brinquedo e deitou fora.Carta fora do baralho.
Ela sobe,desce,sobe,desce,e vai subir cada vez mais.
Até a queda lhe mostrar que toda a subida valeu a pena,aparte do corpo dorido.
O bilhete é invisivel,a viagem é alucinogénica,e ela,ela voa.Sem compromisso.

Amizade

Sinto a falta do que já não tenho de ti.
Saudades de te ter só para mim,um amor egoísta assumido,que me fazia e ainda faz levantar todas as manhãs (ou quase todas) na esperança de um dia te orgulhares de mim.
Gostava de ter uma máquina do tempo para poder num só botão,automaticamente transferir-me para aqueles momentos em que me fazias sentir viva.Porque viver valia a pena só por te ter na minha vida.
Queria estar aí,porque sei que o teu chão está a fugir.E se perdes a esperança,então deixo de ter esperança em mim mesma,porque tu és a minha esperança.
As prioridades mudam,os mundos dão voltas e voltas e voltam a posições antigas,outros a novas.O que eu sinto não.E tenho honestamente medo de te perder,seja pela distancia ou por outra coisinha qualquer que não importe nada comparando à nossa relação,tenho pavor que te afastes.Não faço a minima ideia de como seria a realidade sem a tua existencia.
Sinto falta de nós.Sinto falta de quando iamos para a praia,estivesse frio ou calor,sentar na muralha a ver as luzes reflectidas no mar,e fazer planos para um futuro que ainda parece tão longinquo.
Sinto falta das nossas noitadas sozinhos,não precisavamos de mais ninguem para rir,brincar,esquecer o mundo...Nos teus olhos era onde eu vivia,conseguia ver-me neles,estava em casa.E os teus braços faziam-me sentir como se não houvesse mal.Nada estava mal.
Merecias mais...Merecias que não te magoassem,que isso fosse impossivel,merecias não desiludir-te.Gostava tanto de te oferecer isso que por vezes sou demasiado exigente com os teus planos,e as tuas companhias.
A distancia fez ir abaixo algumas coisas...Embora te veja,não estou sozinha contigo para te poder contar as coisas que não conto a mais ninguem,não estamos sozinhos para que eu possa chorar e desabafar e dizer-te que és a melhor pessoa do mundo.

Sempre que vens visitar-me penso: "Ele vai voltar,ele vai voltar"
...Mas porque é que tenho tantas saudades tuas,se ainda agora foste embora?

Entrevista com o desconhecido

A cadeira parecia de metal enferrujado ao cortar-me as pernas por baixo das meias de padrão xadrez.
Estava à espera de alguem,provavelmente uma pessoa desinteressante e profissionalmente fria,mas nunca se sabe.Em volta as paredes nuas e escondidas em plantas artificiais,faziam-me sentir num sonho.Observava lentamente os meus gestos de fora do corpo e dizia baixinho: "Aguenta."
Por fim um som.
Ecoava no silencio como um tiro.Que "boa tarde" mais luminosamente falso.Só conseguia pensar em quem seria realmente o ser humano por baixo daquela gravata.Teria familia?Amigos?Amantes?Seria algum menino molestado em criança que conseguiu subir na vida?
Respondi amavelmente,sem forçar a voz.Vi esboçar um sorriso,e até que enfim algo honesto saía daqueles lábios.
Gosto de perguntas.Excitam-me.As respostas perdem-me o desejo pelo caminho.
Curtas e directas,foram as que dei.Satisfatoriamente vi aquele ser desabrochar entretanto,queria saber mais,queria desenterrar o que eu pretendia manter bem fundo.Sem sucesso,mantive-me submersa por um mar de pecados e mentiras sob controlo de um desconhecido.
Ironia do destino,os estranhos são sempre mais interessantes que os óbvios.Qual é a piada de mergulhar,quando já sabemos onde se encontram as rochas?
Agora que acabou,e já não posso voltar atrás,gostava de ter feito eu mesma uma ultima pergunta:
"Que queres de mim?"

Sem pressa

Agora que já não há nada para dizer,que faço eu?Apago.Apago porque é o que resta e o que foi dito que existe,não existe nada.
É um vazio desconfortavel este de não te amar,mais.Por vezes tenho recaídas e tento adorar-te novamente,mas depressa chego à conclusão que se te esqueci,por alguma razão foi.
O teu sorriso,não me transmite raiva,fico feliz por te ter conhecido,feliz por ter sido quem fui.Não triste de já não o ser.
Não tenho alvo para descarga de emoções,deve ser por isso que ainda passeias na minha cabeça tantas vezes...Se bem que passei o dia inteiro sem me lembrar que existes.24 horas.Talvez menos algumas em que dormi.
Estou perdida,mas não és tu quem vai encontrar-me.Sei disso com toda a consciencia de quem te amou mais que a vida.A estrada não acaba...
Ainda tenho um vasto caminho de opções que terei de fazer,e portas a abrir por quem passei ao lado.Estou quase lá sabes?Tenho quase certeza que não vinhas a tempo neste momento,não daquilo que te pedi.
Mas não va o diabo tecê-las,prefiro falar com cuidado,e dizer apenas que estou em recuperação de mim mesma.
Hei-de chegar lá,amanhã...Ou depois.Sem pressa.

Meia noite

Onze.
O telefone canta em sintonia com o meu corpo dançante.Disseste que vinhas,eu perguntei horas.
Vesti-me o mais simples possível,até estava bonita nessa noite,despi o que pude para cobrir.
Onze e meia.
Não,ainda não estava a tremer,mas o ar custava a entrar e sair,estava tudo na mesma.
Saí.Andei mais rápido do que alguma vez tinha andado para chegar atrasada de qualquer das formas.
Parei em frente ao miradouro,de costas para que te visse antes que me encontrasses.Não resultou.
Meia-noite.
Foi a hora em que decidi matar-nos.Sou só eu e tu agora,e para sempre.Não mais nós.
Atrasada a noite em que o reencontro pareceu tão frio,tão triste.Tão vazio.
Não disse metade do que gostaria de ter dito,não me respondeste o todo.
A tua adoração pelo meu sorriso não passou de um passar de mãos pelo meu cabelo como quem diz,"não chores,desculpa." e mais uma ausencia de palavras.
Eu já não choro,não por ti.
Acabou,mas a verdade é que demorei meia noite para o terminar,este feitiço que me havias posto.
Uma meia noite que valeu a pena,e agora sou eu que gostava de te dizer:
"Eu gostei mesmo muito de ti",sublinhando o verbo.