Diário de uma Paixão

sexta-feira, abril 30, 2010

A dama do prédio em frente

Pela janela da cozinha por entre a brisa de Verão camuflada,observava as janelas dos vizinhos do prédio em frente.Só uma se encontrava com luz,uma luz suave adormecida com a janela meio aberta e as cortinas beje a flutuar por entre as nuvens que passavam em aflição para a estação seguinte.No fundo da janela estava um roupeiro e uma senhora que sentada em frente ao espelho acariciava os cabelos castanhos lisos.Desfez pouco a pouco a trança que a fazia senhora,e escovou lentamente como se fosse o melhor momento do dia,o cabelo que parecia o meu sem estar pintado de trevas.Era um bolo se chocolate merengado de baunilha.Pareceu-me linda a fotografia que os meus olhos tiravam.Tive inveja daquele momento intimo como se ela fizesse de propósito para que eu visse.Não tenho cómoda com espelho para mexer no meu cabelo,tenho o cabelo comprido para ficar bonito caído nos ombros que já não acho bonitos sem alça de soutien.É uma máscara que presa ao meu corpo dá ilusão de me sentir bonita com a franja a cair de lado na testa.
Na casa de banho depois de fechar a janela,olhei a minha cara e achei perfeitas as curvas das minhas sobrancelhas e o rasgar dos meus olhos mais escuros do que eu gostaria,por que não são chocolate?O cacau parece demasiado puro para me preencher a fome de açúcar que tenho na minha auto-estima.Uma hipoglicémia desastrosa que já não se cura com desejos externos...
Via aquela senhora transformar-se em dama,porque é mais clássico e romântico e aquela paixão que ela saboreava em frente ao espelho eu também já tive.
Sempre escrevi acerca de paixões,paixões por tudo e por nada,por um mundo cor-de-rosa que sempre consegui desvendar por entre a poluição.
Como faço eu para me apaixonar outra vez,por mim?

sábado, abril 24, 2010

Plaquetas

Agora não te apetece falar,a mim também não.Não te apetece tocar na ferida,a mim dói-me.
Se a mim é que me dói,porque é que a ti é que apetece falar?
Ela estava sempre com cara de chateada,eu não quero ser assim.
Quero falar mesmo quando dói,se a ti não dói,não me abras mais a ferida.Já tenho suficiente para sarar.

terça-feira, abril 20, 2010

Diálogo maternal

"Não devias ter nascido.És uma falha e toda a razão da minha culpa.Estás doente?Também eu,não sabia que te ia deixar esta herança.Tu és nova,aguentas-te...
Devia ter deixado aquele homem há 26 anos...
És aquele pedacinho partido de espelho que a vassoura não agarra e anda ali no chão a cortar os pés a quem passa.Ele enfim,consegue ser o chão repugnante e lamacento em mistura com insectos.Talvez até pior.
Nunca devias ter vindo ao mundo,foste a tentativa de resolução do casamento inconsciente,de alguém que procurava um pai e em quem encontrou um fim.És a culpa inteira da minha ausência de vida e da minha vontade de morte,todos os dias peço a Deus para que me leve,tal não é meu desespero.A minha vida é sozinha num buraco escuro,ninguém me liga.
Já cá não faço nada,não tenho ninguém e tu para mim é como se não existisses,não vales nada.Não quero saber de ti ou da tua vida,quero que me esqueças,que apagues o meu numero e deites para o lixo o que tens meu."

Gostava que fosse tudo uma metáfora ou pelo menos deitar fora o meu sangue...

Hoje pela primeira vez,desisti de ti,para não desistir de mim.

sábado, abril 10, 2010

Post secret

Costumo ler religiosamente todas as semanas este blog,à espera que apareça alguma segredo que me defina como pessoa,e que me faça sentir menos invulgar.
Se lá pusesse alguma coisa talvez fosse isto:

...O pior de tudo é ter herdado tudo aquilo que não queria e o que quero é tudo aquilo que quiseste dar,mas na verdade não deste,e eu nunca vou poder ter.

Na verdade,estamos todos sós.Sempre.


Http://postsecret.blogspot.com

domingo, abril 04, 2010

Actriz secundária

Sou a actriz secundária do meu próprio filme.
Não tenho amigos ou família,tenho empréstimos.
Família só por afinidade e amigos com contrato a termo incerto.
O amor é o egoísmo de ser a personagem por quem não vale a pena pensar,e o ódio é a respiração de uma rotina medíocre.
Sou o casting falhado de actriz principal,que apenas ganhou o papel de pena.
Pena por ser a actriz bem talentosa mas que não ganha Óscar.
O passageiro que partilha a carruagem as mesmas criaturas todos os dias,e lhes chama família,por não saber o que isso é.

Representar é fazer um papel que não é o nosso.