Diário de uma Paixão

sexta-feira, outubro 04, 2013

Saídas

Odeio a porta do meu prédio. Faz-me chorar de raiva e tenho tantas razões para isso... A mola da porta é tão forte que podia servir de transporte de velhos para Santa Apolónia. Se eu chegar a velha estou lixada. Aliás, secalhar até estou lixada com a porta mesmo sem lá chegar. É preciso uma força descomunal para a abrir por fora, e por dentro é irritante ter de a fazer só para sair à rua. Tendo em conta que na cave não há janelas para fugir, a porta seria a unica opção, mas não. Odeio o barulho infernal que ela faz quando bate, quando alguem entra, quando alguem sai, quando alguem vai meter o caixote lá fora. Odeio,apetece-me parti-la mas nem força teria para isso. Para os vidros sim, não para a porta. Cada vez que ela range e bate em estrondo histérico eu fico alerta. Sem sucesso. A porta da minha casa não fala. Só a do prédio. A puta da porta do prédio que não fala, só grita. Grita-me a necessidade que é sofrer quando a solidão chega ao tapete da entrada. Às vezes até parece que grita só para me provocar, mas afinal não era comigo. E cada vez que ela puxa uma discussão lá vou eu, lá vai a gaja estranha responder. Nunca tive jeito para ignorar. Interiorizar não é ignorar. Eu odeio a merda da porta que bate porque quem eu quero que lhe bata chega sempre tarde. Sempre tarde.

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