Diário de uma Paixão

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Muro de Berlim

Quando saí de casa agarrei-me a um album de José Gonzalez.Ouvia vezes sem conta em repeat mode,como tudo o que gosto.Era um vicio depressivo que me trazia um conforto que de alguma maneira nunca cheguei a conseguir.Diz-se que conseguimos tudo aquilo por que lutamos com muito afinco, eu secalhar não sou uma pessoa suficientemente agressiva. Hoje entrei no autocarro a lançar pragas aos mil semáforos vermelhos que se seguiram.Estava gelada,cheia de um jantar no restaurante chinês,com vontade de rebolar para o sofá de aquecedor ligado e eis que entra uma senhora cheia de sacos para se sentar ao meu lado. Eu detesto que se sentem a meu lado. Detesto autocarros, detesto muita gente à minha volta,detesto não saber onde fixar os olhos sem raspar em alguém,detesto. Mas a senhora,loira de cabelos excessivamente compridos,a cheirar a pão com chouriço deve ter achado que eu tinha um ar simpático. Ainda não estava sentada e já me estava a pedir desculpa por falar de boca cheia,mastigava qualquer coisa que eu preferi não analisar.Começou a falar do frio, a dizer que não era um frio normal de Fevereiro ou Março,que não tinha almoçado,que estava cansada,e depois falou mais um bocado do frio.Como se fosse preciso falar,estava um gelo insuportavel,sim,já toda a gente tinha reparado.Até o raio da mulher sair eu não abri a boca.Sorri 2 ou 3 vezes na esperança que ela se calasse,ou que metesse conversa com outra criatura qualquer mais sociavel no autocarro,mas não.Quando disse "boa noite" e saiu,atafulhada de sacos,senti os meus lábios colados.Não abri a boca uma unica vez e pensei para comigo: "és mesmo má pessoa". Cada vez que me sinto assim ouço aquele album.Faz-me ficar ainda mais triste do que já estou,ajuda-me a encontrar paz no meio da depressão e da ansiedade de não conseguir estar quieta e acender mais cigarros do que devia. Eu não gosto de falar,não gosto de desconhecidos,mas gostava de ter a menos este bocadinho de cérebro que me faz ser consciente e responsavel,era bom sentir o que os outros sentem do outro lado do muro.Este muro de Berlim que tarda em cair...

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