Telefone
Quando tinha 15 anos quase corria para o caderno mais próximo assim que sentia qualquer coisa. Boa ou má, era instintivo. Quando me apaixonava, quando sofria, até na ausência de sentimento. Os anos ou lá o que tenha sido tirou-me isso. Nunca escrevi para ser lida, escrevia para deitar fora o que tinha cá dentro e se tornava demasiado. Era como um caixotezinho de reciclagem, um click e os virus saíam do disco. Nem os computadores são tão simples. Eu era, mas achava-me complicada.
O que diria eu com 15 anos do produto com mais 10, quase 11 em cima. A gestora de empresas que vivia sozinha com um gato e não pensava em emoções...Pff.
As coisas apoderam-se de nós sem dar conta. Os computadores, a internet, a comida, a roupa, os dvds... Uma lista gigante de coisas que mandam em nós como se fossem os nossos patrões.
Na altura de certeza que mesmo sabendo a verdade do futuro, ia ter uma grande ideia para escrever uma história exagerada sobre uma assistente de call center com as primeiras rugas, que gosta de futebol e filmes esquisitos e que nunca há de chegar a gestora de empresa nem ter um apartamento de luxo.
Era positiva o suficiente para acreditar que até uma cave escura e fria, uns headsets e umas olheiras serviam para criar história.
Eu não compro anti-olheiras, acho caro, mas todos os dias penso nele como se o tivesse comprado. O anti-olheiras manda em mim. Se o comprar vai tomar conta dos meus defeitos e se não o fizer a curto prazo...Tambem.
As ruas da baixa já não são a mesma coisa. As pessoas vomitam, sentem-se sozinhas, perdidas e eu não vomito mas faço parte do lote. Já não sinto um aperto em ir embora, sinto um aperto de lá ficar, e medo de lá andar sozinha.
Refem de mim mesma. Eu que não ia ter donos, afinal tambem não tenho um apartamento e um cargo de chefia.
Afinal não tenho...
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial