Diário de uma Paixão

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Adeus avô

Se aqui estivesses aposto que era tudo diferente.Há pouco disse algo que nunca pensei dizer,ainda que com alguma culpa dentro de mim,ainda bem que ficaste doente.Caso estivesses aqui,caso não tivesses ficado doente e a tua cabeça não se tivesse esquecido de tudo e todos que faziam parte da tua vida,terias morrido na mesma,de desilusão.
Fui a tua maior esperança,a tua esperança num mundo melhor,que alguem melhor que o teu próprio filho poderia vir do teu sangue,e eu tornei-me nisto que sou hoje,um fracasso.Uma falha como me chamaram uma vez.Tenho saudades tuas,sinto-me arrependida,nunca pensei sentir-me tão culpada por ter feito o que fiz.De certa forma contribuí para a tua morte.Não presto.Ajudei a matar a unica pessoa que me amou de verdade,sem segunda intenção em algo,apenas por amor.Foste a unica pessoa que alguma vez me ajudou e me quis bem sem desejar algo em troca,acredito até que mesmo tendo desiludido tanto,tu continuarias a amar-me como quando nasci.Deixei de ser a menina que levavas ao parque no dia em que decidi afastar-me de ti.Deixei de ser eu.Conheci um mundo perverso e cruel que tu nunca havias de querer que eu conhecesse,desiludi-te sem que soubesses,desiludi-me.Quando pensei em voltar à tua vida já tu não reconhecias a minha cara,ou talvez conhecesses até mesmo não reconhecendo mais ninguem,não cheguei a tentar.Às vezes penso,onde estarás?Será que me vês?Será que olhas por mim?Acho que não...Nunca deixarias que me acontecesse isto tudo.Nunca deixarias que fosse trabalhar,e adiasse as idas ao médico sabendo que estou doente.Nunca deixarias que o meu pai me dissesse que não tenho vida para ir para uma faculdade nem nunca deixarias que chorasse,como choro agora.Sabias sempre como encontrar-me,a menina de cabelo liso e olhos tristes mas decididos,sentada no baloiço que ensinaste a baloiçar,no parque do costume,onde tiramos mil fotografias à espera que nenhum se esqueça um do outro.
Dizem que só se ultrapassa uma grande perda quando se sofre.Na altura que te perdi de verdade,e que era tarde voltar atrás e reencontrar-te,não chorei uma lágrima.Mais vale tarde que nunca,talvez...Hoje,um ano depois,estou aqui a chorar-te,a chorar a tua morte,o meu remorso,e o desejo que tenho que estejas feliz onde quer que estejas,e não te sintas de forma alguma culpado por não me ter tornado na menina feliz e perfeita que sempre desejaste que eu fosse um dia.Fizeste tudo o que podias.Secalhar se não o tivesses feito eu não teria aguentado isto tudo,e não aguentaria todos os dias isto tudo,e não controlava tão bem as minhas lágrimas quando é preciso ser mais forte que o vento,obrigado por isso.
Desculpa,onde quer que estejas por não ter tentado...Ainda tenho a infindavel esperança que se te tivesse procurado tu me havias reconhecido aparte de todos os outros,porque eu era importante.O amor não cura,mas faz-nos esquecer qualquer doença.
E hoje só consigo pensar,que ainda bem que já cá não estás,pois não ias aguentar ver-me chorar desta maneira,nem ver os erros do teu filho e da própria vida,em cima da tua neta.
Um ano depois,estou a chorar a tua ausencia.

Para sempre,a tua menina.

sábado, fevereiro 17, 2007

Vai com a chuva

Comigo gastas o teu latim.
Ainda assim eu não te vou escutar...
És tu que pensas que me ligo a ti,
Eu sei quem és e que não vais mudar.

Pára...Pára.

Ainda estás aí?Ainda estás aí?Ainda estás aí?Ainda estás aí?

Pára...Pára!

Vai com a chuva para bem longe,
Vai que eu deixo,
Segue o Tejo...
Esquece quem sou...
Esquece quem sou...

Vai com a chuva para bem longe,
Vai que eu deixo,
Segue o Tejo!
Esquece o meu nome...
Esquece o meu nome...
...Ou volta para mim.
Volta para mim...

Ainda estás aí?Ainda estás aí...


Azevedo Silva - Vai com a chuva

sábado, fevereiro 10, 2007

Sad eyes tell no stories

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Feridas

Perdi-me.
Nos teus olhos criei a ambição de que um dia poderiam eles olhar-me da mesma forma,estava errada.Nos teus olhos,criei a esperança de que talvez um dia o teu sorriso bem abaixo deles seria por minha causa,enganei-me.Hoje sou um pedaço de vidro ensanguentado de um copo que tu partiste,o qual sujaste com teu sangue e deixaste no chão para que alguem varresse,ou talvez se varresse sozinho.
Tentei por bem próprio varrer-me,mas acabei por cortar-me tambem,embora não tenha sido egoísta ao ponto de te sujar com o meu sangue,com aquilo que percorre o interior do corpo que tu usaste,iludiste,e mais tarde escondeste debaixo do tapete como um arrependimento.Se me perguntasses hoje por que choro,dir-te-ia,porque tu esqueci.Talvez soe estranho mas é verdade,habituei-me tanto à tua presença na minha vida,na minha rotina,na minha cabeça,que hoje é-me quase impossivel viver sem ela.Impossivel é o nada,tens razão.Por isso hoje lancei um alarme a mim mesma,estás de fora.Estás debaixo do tapete do meu quarto que vai estar lá sempre,mas que nunca vai ser limpo por baixo.Sou demasiado preguiçosa e emocional para isso.Até o pó que lá está é uma recordação do que eu vivi e aprendi e me fez ser o que sou hoje,por muito que não me orgulhe do resultado.Não mais direi o teu nome,não mais farei aquele olhar vago de quem sente saudade quando passo na estrada que passavamos juntos para ir a todos os sitios especiais onde iamos.Não,não estou a mentir a mim própria,estou a decidir-me por mim mesma.Às vezes as nossas vontades são o gatilho da arma que nos mata,sem que sintamos de facto o sangue escorrer...Olha só o sangue que ficou.

Não posso evitar o pensamento,mas posso evitar o acto.