Diário de uma Paixão

quinta-feira, junho 29, 2006

M

Sentada no centro do meu quarto,no centro do silencio e da escuridão.A minha vida foge-me das mãos como um veneno viscoso e húmido por entre os dedos,o frio do chão diz-me que ainda sinto.Imune a qualquer dor,observo as 4 velas que me rodeiam como as fontes do meu sangue.À medida que a chama se intensifica sinto os meus dedos deslizar mais depressa sobre o papel,como se corresse,como se fugisse de algo que me assombra.
Se a chama se apagar,que será desta memória?Que será deste momento que deveria ser eterno?Morrerá.
Sentada no centro do negro destas 4 paredes quebradas,e no gelo sofrido deste chão onde já caí tanta vez,sinto tudo o que ficou por sentir,tudo aquilo que sempre me amedrontou.Estou cansada de correr,o ar desaparece derretendo-se dentro deste corpo jovem exausto.Vejo coisas.
Alucinações do que poderá ser o meu medo,visões daquele de quem aterrorizada fujo.Não tem cor nem tamanho,nem muito menos cheiro.Não o encontro quando em actos de rebeldia irresponsavel decido enfrenta-lo.Terá nome?Eu sempre lhe chamei algo pelo qual a letra "M" será sempre culpada.Mas não é aquilo que é,e que espero ansiosa ser,não pode,não é assim tão previsivel!
Tudo aquilo que me arrependo aparece.A janela aberta faz-me temer que entre,faz-me tremer e desejar e ter pavcor desse mesmo desejo.
Luzes assombram-me agora ao fim de todas estas palavras perdidas,sem sentido.Será mesmo o fim?Porque não param então as minhas mãos que esfomeadas de letras,escrevem?Porque não param de brilhar então,os meus olhos que feridos ardem?Porque não cesso eu toda esta insegurança escura e fria e me levanto?
A luz volta.Em forma de anjo diz-me para não temer aquela letra,diz-me que não sou a fraqueza que triste observo todos os dias no espelho.E eu rendo-me e acalmo.Olho corajosa para trás na esperança de poder ganhar àquele que me assombra as noites.Era ele.
A claridade nunca foi assim por mim tão desejada,a luz desapareceu deixando-me levemente curiosa da continuação do sonho.Receosa se algum dia vencerei os "Ms" que me assustam tanto.E eu,docemente olho para trás e digo:
"Medo,dá-me a mão."

A vitória apenas adormece momentaneamente um dos lados.O empate é eterno.

quarta-feira, junho 28, 2006

Palavras e doces

Hoje a minha boca tomou um sabor estranho,"dejá vu" talvez,ainda assim espero que se repita sempre que possível.Por momentos o sorriso foi sincero.

Há muito tempo que não ouvia as palavras que me disseste há pouco.Há muito tempo que não as sentia,não desta forma.Foi especial embora breve,foi um florescer de sorrisos na minha cara.Desenterraste um sorriso algures perdido em mim,como há muito ninguem o fazia.Isto não é uma carta de amor,são apenas algumas das frases que gostava de te dizer mas por alguma razão que me foge,não consigo.Sei que não vais ler,sei que não tens noção nem vais ter do que foram aquelas palavras,porque eu não te o vou demonstrar,mas é como um respirar diferente para mim deixar por escrito o que me fizeste sentir,ainda que pelos instantes de uma palavra.Permaneci silenciosa como que em choque,surpresa,bastante.Esperava ouvir algo parecido mas não aquelas.Foram simples.Soaram em mim como sinos da aldeia onde passava férias em pequena,soaram como o som da ribeira dessa mesma aldeia que ainda hoje faz eco na minha mente agora impura.Fizeste-me sentir criança.O azul do céu que acorda agora em frente dos meus olhos parece mais brilhante,porque tu assim o quiseste sem saber que querias.Insegurança é a palavra que me passeia agora o corpo como uma formiga,calmamente,atingindo todos os membros.Será que o disseste por dizer?Será que o disseste por sentir?Será que o disseste apenas e só porque...disseste?
Secalhar sonhei e ainda não acordei.Na verdade ainda nem fui à cama,mas a insónia foi mais leve esta noite,aceitei-a com um sorriso de menina feliz a quem deram um doce.O açucar engana,fica pouco tempo o seu sabor,porém,há coisas que ficam.Porque os doces duram enquanto os temos na boca,as palavras ouvem-se quando as tiramos de lá,mas ficam nos olhos de quem as ouviu dizer por muito tempo,quando na verdade não têm açucar.

Os teus olhos são o espelho mágico que me transporta à infância cor-de-rosa que nunca tive.

quinta-feira, junho 22, 2006

Desejo

Corria pelas veias acelerado como um comboio sem travão.Toda eu era líbido,toda a líbido eras tu.À medida que as horas passavam fugazes pelo tempo e pelo vento que nos rodeava,deslizava no sangue como um virus.Toda eu me descontrolava e observava do lado de fora do meu corpo,a reacção quimida que tinha sucedido.A cintura era uma serpente que não morria,com as facadas de um ser humano.Os lábios eram uma jovem flor em dia de chuva,emanavam desejo.Procuravam maneira de permanecerem intocaveis ao serem desejados tambem.E foram.Aqueles 3 goles foram mortais,aqueles 3 goles encendeavam a praia,aqueles 3 goles foram os principais culpados.E eu limitava-me a fazer uso deles,eu assistia a tudo como se de um filme se tratasse.Eu assistia tudo nos bancos de trás,contemplava tudo e orgulhava-me da minha própria desgraça.Enquanto tu me tiravas a pureza dos lábios,da cintura,do pescoço,enquanto me tornavas suja.Eu fugia e voltava em fracção de segundos,eu mordia-te e beijava-te numa antítese de amor/ódio carnal.O vento imparcial abraçava aquilo que o demónio havia criado ali,aquele acto impuro de desejo e instante,aquela situação condenável e suja.
Fechei os olhos e esperava acordar,aquele sonho húmido não podia ser real,mas era.Aqueles 3 goles pertenciam ao meu estomago agora prestes a gritar,aqueles 3 goles teriam assassinado a minha alma,aqueles 3 goles fizeram-me brilhar.

É bom fazer mal e sentir o desejo de o repetir,é bom fazer mal e sentir remorso,mas não arrependimento.Orgulho-me do que faço,nem que seja destruir-me.

É bom respirar e sentir,é bom estar de volta.

quinta-feira, junho 15, 2006

Cinzas

"...não sei quem fui,não sei quem sou,e mais grave que isto,não sei quem quero ser."

O cinzento do céu não se transfere para a minha mente como tudo o resto,sinto-me bem.Sinto vontade de respirar fundo e sair,não dormir,aproveitar o céu e a humidade enquanto duram,porque tambem eles acabam.Medo?Talvez seja medo de acabar com eles.Medo de os venerar tanto que desapareçam mais depressa,medo de morrer.Sou a sombra do que fui,e não sei o que foi.Sou a nuvem que tapa o sol no dia de hoje,o pássaro que irritantemente pia do lado de fora da janela do meu santuário.Sou a menina do lado de dentro destas paredes que me separam da sombra,da nuvem,do sol e do pássaro que me incomoda.Sou alguem que sente não sabe o quê nem como,e muito menos porquê.Tento demasiado e esforço-me por saber o que sou,quando não me deveria passar pela cabeça sequer.Alcanço o esgotamento como que uma meta,e adormeço acordada no mundo que criei à minha volta para me sentir em casa,porque,casa...é algo distante do meu horizonte por enquanto.Não me lembro do que são lágrimas,sorrisos deslizam pela minha cara como se não existissem,e sentir é assim transcendente,confuso,quase doloroso para mim.Sou uma menina vazia e fria,sou alguem que quer demasiado não querer.Sou a eternidade e a morte.
Não sei quem sou,devo ser umas gramas de cinzas do que fui que ainda reluzem,e um pedaço de esperança reduzido e envergonhado daquilo que quero ser.

E assim o Sol nasce declarando uma antítese,e essa antítese sou eu.

domingo, junho 11, 2006

Lost In Translation