Diário de uma Paixão

quarta-feira, novembro 16, 2011

Sertralina

Tenho medo do meu querer, da minha ambição descontrolada. Tenho medo porque sou realista, calculista também, tanto que depois do = deixei por enquanto um ?
Não creio que seja cedo, de certeza que é deveras tarde, mas mesmo assim os cálculos continuam a correr na minha cabeça. Eu sei o que está depois do = mas dá-me pena de o colocar já. Tanta matemática para um resultado tão pequenino? Não que 1.60m de gente seja a chave que muda o mundo, mas se assim é porque é que esta vontade desmedida de ter aquilo que não se pode me enche o estômago?Porque é que não deito tudo pelo ralo abaixo de uma vez?Devia ser como fazer a depilação, arranco a cera antes de sequer me dar ao luxo de pensar que doí, e doí.
Qualquer dia acordo magra, oca.Só a pele e o osso sem aquilo que lhes impede a amizade,sem o sangue que os faz correr sem mexer ponta, sem aquilo que faz de mim, eu.
Eu medroso, eu egoísta, eu completamente despido de auto-estima e amor próprio. O verdadeiro eu no balcão do talho. Puro naco de osso depois da faca.
Se eu mudar, será que o mundo muda comigo?
Não há comprimido que não seja mais que um cortinado feio e antiquado a tapar por tempo determinado o que há lá fora.Um espelho de tudo o que não vamos ser.Um espelho de incapacidades.

24 + 5 - 1x = ?

sábado, novembro 05, 2011

Os monstros

Consegues cheirar o desinteresse.A gargalhada forçada,o sorriso falso.Toda a gente mente.Toda a gente é feia.O desinteresse das palavras e as conversas de uma hora sobre maquilhagem ou comida,tudo é cínico e plastificado.As pessoas são feias,ainda que cobertas de pós coloridos e cheiros doces.
Entras no metro,sentas-te,abres um livro.Não lês,só serve para desviar o olhar do horror à tua volta para que não vomites.Já só faltava o cheiro a vómito para piorar a viagem.O metro nunca é rápido demais,nem tu.Os monstros em volta são lentos,escorrem pelas carruagens que nem ranho,verdes,espumosos.Cheiram tão mal que não cheiram a nada.Como uma mistura de cores,nada.Deixam o seu rasto viscoso no corrimão,nos assentos,nas portas que tardam sempre em abrir.Não queres respirar aquilo,aquele vapor infeccioso a pessoas,a pessoas tão feias que não queres partilhar uma carruagem com elas,nem sequer tocar-lhes nos olhos com os teus.
Consegues ver a desistência do Ser em cada uma delas.A morte cheira-se na porta da estação.Nunca percebi se ao entrar,ou ao sair.
As pessoas são monstros feios.