Diário de uma Paixão

terça-feira, abril 29, 2008

13 gramas

A noite é a altura mais irónica do dia.Desde que me lembro que a julgo irónica.
Traz-me segurança quando tudo corre mal,e tristeza quando tudo corre bem e só queremos que ela acabe para iniciar um novo dia.
Uma noite destas ao passar pelo Intendente,vi duas raparigas serem obrigadas pela polícia a entrar num carro,sem saberem o motivo.Entretanto entrei no café,sentei-me à espera de movimento como quem vê uma novela,e apreciei tudo.
Duas miudas,uma mais velha outra com cara de menina.Tremiam enquanto esvaziavam os bolsos e se confessavam por 13 gramas de haxixe.Pouco depois chegou outra.Todas vinham da mesma casa,do mesmo prédio fino da zona,onde por baixo o ambiente era tudo menos isso.
Uma chorava desesperada com vergonha,outra chorava e ria ao mesmo tempo possivelmente dos nervos,a terceira,encostada ao cantinho esquerdo do banco de trás do carro,ficava a olhar o vazio que existia na Almirante Reis.A curiosidade matou-me naquele momento.
Lá fora,mais de 10 policias à paisana a vigiar a casa de onde vinham.
Sai de lá um rapaz,não tinha mais que 30 anos,levado noutro carro,algumas horas depois,e ambos os carros partem.
A curiosidade matou-me no momento em que vi o olhar vazio daquelas 3 raparigas aparentemente inocentes,e perguntei a um dos ultimos agentes a abandonar o local o que se passara.Fiquei a saber que se tratava de uma detenção por posse e venda de estupefacientes.
Que local tão apropriado não acham?
O rapaz,o ultimo a sair num carro aparte,tem mulher e um filho que faz um ano no mês seguinte.
Ao anoitecer só consegui sair do café quando a rua esvaziou,e pensei no que iria na cabeça daquela menina,presa num carro de policia,provavelmente por fumar um charro de vez em quando.As pessoas continuavam a sua rotina desenfreada fora e dentro das saídas de metro,Intendente e Anjos rumo a suas casas,em busca das suas próprias familias.
A que horas chegariam elas a casa?Será que passaram a noite numa esquadra qualquer entregues a mil e um homens desejosos de poder?
A noite é irónica...

E eu ainda mais por ir naquele carro a caminho da esquadra de Benfica para passar lá a noite.

domingo, abril 27, 2008

Jogo de olhares

Crescer é estar longe do que amamos.O que não nos mata torna-nos mais fortes.
É incrivel como passas ao meu lado e não me vês,e eu finjo que não te vejo.
Tem sido fácil,nem há muito a escrever sobre o assunto,talvez seja melhor assim.Tem sido demasiado fácil.
Coração que não vê,coração que não sente.
Eu olho para a esquerda à espera que não percebas.Tu chocas o olhar em mim e viras logo para que não perceba.Quase sei o que te vai na cabeça.Pela primeira vez em tanto tempo não sabes o que vai na minha.
Escrevi aquela frase porque amo a ideologia,porque é de uma musica de Tool,e porque apesar de tudo acredito nela.Dei-me conta disso há uns dias,fechada numa esquadra.Logo eu,entendes?
E esta é mais uma história que não te vou contar,e esta é mais uma noite e uma ressaca que não te vou contar,porque estás cada vez mais a sair do nosso circulo que era tão seguro...
Estás a ir e eu estou a deixar.
Sabes porquê?
Porque ainda me custa pedir-te que fiques.Devias faze-lo sozinho.
Não é uma guerra ao orgulho,é uma guerra à verdade.

Eu vou deixar-te ir.
Amo-te na mesma.

segunda-feira, abril 14, 2008

Não sei,tu sabes?

Esta noite no terraço,senti-me segura.Talvez uns braços à minha volta de vez em quando saibam bem.Talvez não saiba tão bem mandar alguem embora logo a seguir...Porque quero dormir sozinha.
Esta noite vou passar o sono a pensar numa relação impossivel,ao invés daquela que me dá a mão sempre que preciso.
Olhei-o nos olhos e disse o mesmo:"Não sei."
Quando é que vou saber?
Nos filmes é tudo tão fácil.Hoje foi tudo tão perfeito que eu fiquei com vontade de me apaixonar,para logo depois me sentir falhada por não conseguir.Será que é culpa de alguem?Culpa minha?Dos homens?Gostava de acreditar que o amor se aprende,e o tempo nos leva a ele como uma idade,ou uma profissão.
Senti os teus braços mas a tua voz não.Estava perdida em pensamento numa voz que desconheço,nuns braços que nunca provei,e na mais próxima paixão que tive desde há mais de um ano.
Quando é que sabemos que vale a pena?Quando nos provam?Quando confiamos?Já me provaram!Eu confio!Porque é que não sinto que vale a pena,ainda assim?
E se às vezes o amor não for por amor?E se apenas não quisermos estar sozinhos mas sentir-nos amados?
Não consigo apaixonar-me.Não consigo esperar que aconteça.
Se não vale a pena esperar,então porque é que me sinto tão farta de te ver entrar por esta porta?
Na verdade nunca entraste...
Será que algum dia o vais fazer?

Tic tac tic tac...
Despaxa-te.

domingo, abril 13, 2008

Aqueles dias

Levanta-te da cama.
Vai arrumar o quarto.
Destapa-te,dá saltos que o frio passa.
Vai vestir o teu melhor vestido.
Vai beber chá de menta com kilos de açucar.
Vai.
Levanta-te do chão.
Sabes mais que isso.
Vai cantar à janela e dançar no meio do quarto.
Vai sorrir.
Vai!
Vai procurar o amor,
Vai abrir os olhos.
Descansa mas não pares.
Vai,vai e não voltes.
Onde é que estás?
Ou melhor...
Onde é que eu estou?

sábado, abril 12, 2008

Na bilheteira

Hoje espero por ti,
Amanhã não te prometo.
Ontem procurei-te,
Onde estavas?

Hoje espero,como sempre...
Amanhã quem te garante?
Ontem estava já cansada.
Nada mudou.

Hoje vou ficando,
Amanhã não sei dizer.
Ontem fiz a mala,
Estou cansada de perder.

Hoje estou bem longe...
Amanhã esperas o meu regresso,
Ontem pensava não voltar...
Amor,não esperes,eu te peço.

terça-feira, abril 08, 2008

100 %

Os corredores brancos parecem cada vez maiores.Dá gosto acordar assim.Dá gosto acordar aqui.
Dizem que a nossa casa,é onde o nosso coração está...Eu cá acho que de vez em quando,assim como quem não quer,podemos pedir transferencias.
A luz parece uma bolha protectora,que me obriga a acordar todos os dias cedo,tomar banho com os olhos bem abertos para o dia que me espera,e pensar que tudo vai correr bem.
Porque quando acreditamos com muita força,tem de ser.E o que tem de ser tem muita força.Eu tenho muita força.
A sala vermelha dança comigo todos os dias,e os animais correm pelas divisões fora,e o terraço diz-me que estou bem aqui a 75%.
Deitada na minha cama grande vejo as estrelas,do outro lado vejo o rio,e a noite parece dia com tanto movimento.Não me incomoda...Gosto da confusão lisboeta e das mercearias de velhotes simpáticos.
Os corredores brancos parecem infinitos,e parecem nunca ter espaço suficiente.É tão bom como...Estar em casa.
Eu não acredito em 100%.