Mariana
No dia em que conheci a Mariana não fomos apresentadas. Eu já lá estava deitada e meio sonolenta quando um homem a trouxe na cadeira de rodas, talvez o seu marido.
Mariana não aparentava muito mais que 40 anos. Eu nos meus altivos 35 observava. desesperadamente observava a sua entrada pouco triunfante. Reclamava com o homem que a levava como que dando instruções, para desviar a cadeira enquanto ela se tentava deitar sozinha. Na cama ao lado a doente de esclerose múltipla já dormia. Eu na cama em frente adormecia e acordava e já pouca noção tinha do tempo, mas alguma coisa me fez ficar a ver.
Mariana ia ser administrada com o mesmo medicamento que eu, significava isto que tinhamos o mesmo. No meio daquilo tudo eramos iguais. Eu com os meus arrogantes 64kgs, e ela com os seus decadentes 32.
Das duas uma, ou sou eu arrogante ao ponto de achar que nunca lá chegarei, ou ela ao ponto de aguentar o que eu não teria coragem de aguentar. Como um espelho partido.
O meu reflexo será este? Secalhar estou mais cega do que penso. Secalhar a Mariana veio-me ensinar alguma coisa, apesar de não termos dirigido uma unica palavra. O seu nome nunca mais me saiu da cabeça.
Mariana é muito parecida à minha mãe, à minha tia, e pavorosamente parecida ao meu possível futuro.
Gostava acima de tudo de não ter conhecido Mariana.
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