Diário de uma Paixão

segunda-feira, janeiro 25, 2016

1987

O meu coração aquece sempre um bocadinho quando chega o Inverno. E tu continuas a ser o gelo que não derrete. Gostava de encontrar a melhor forma de escrever o que me vai na cabeça, gostava de ter esperança que algum dia o lesses, que compreendesses. Nunca recebi um pedido de desculpa. O meu coração aquece sempre um bocadinho menos a cada Inverno e a tua força de me trazer o frio e a neve aumenta a cada ano que passa. Eu sou o bicho que não vai amar como tu. O bicho que vai ser sempre menos, sempre mais, nunca o que tu queres. Não há maneira de seres feliz, foi assim desde sempre. Antes de mim. Eu herdei a incapacidade, a doença, a tristeza, o histerismo. Eu herdei tudo o que havia para herdar. Tudo o que ninguém devia herdar. O sangue envenenado. Mudaste tudo. A pessoa que eu fui, sou, e estou programada para ser. A pessoa que já não vou ser. Todos os dias vejo um bocadinho de ti em mim, nem uma grama de mim em ti. Na minha cabeça não há capacidade de perdoar, esquecer, recuperar. Só ouço coisas mortas. Até lhes sinto o cheiro às vezes. É um misto entre cinza e bolor. Dizes tantas vezes que a queres que eu penso que tu sabes. Não sabes. Não sabes nem poderás nunca saber ou compreender o quanto a quis. Tanta vez. As noites em que saí para não voltar, os dias em que acordei para fechar a porta e não voltar a abrir. Nunca te pedi. Nunca. Será que é tudo culpa minha? Eu não pedi. Aquele conforto do frio no corpo odiado, como um castigo, dizia que merecia. O verão nunca significou nada, como se o sol não entrasse. A minha pele é à prova de calor e distância. Brincava sozinha numa poça de água e as folhas de oliveira eram os barcos, que nunca me levaram dali para fora. E todos os Invernos o meu coração quer arrefecer. Em Janeiro, onde tudo começou.

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