Diário de uma Paixão

quinta-feira, junho 17, 2010

Mapas rasgados

Percorri um longo caminho.Tinha um mapa detalhado,estradas coloridas para não me perder,e uma lanterna para as noites mais escuras.Fugi de uma terra que odiava para viver onde o meu coração está.Andei,andei,andei...Até os meus pés terem bolhas e o suor me arder nos olhos.Andei até não poder mais,e parecia poder sempre mais.
Hoje cheguei ao sitio onde pensava ser o final desse caminho doloroso,cheguei e sentei-me a olhar para ele.Uma terra distante cheia de nadas,e eu que pensava que era uma coisa deslumbrante,deslumbrei-me com a desilusão que me causou.Não era nada do que eu queria,não era aquilo que eu planeava há tantos anos,e certamente não é o fim da linha.
Tomei banho,calcei os ténis e lá fui eu.A caminho do desconhecido outra vez,e o que é mais engraçado é que na minha cabeça esse sitio parece tão claro,que me custa a acreditar que não cheguei.
Estava tudo na minha cabeça.
Perdi o mapa.
Gostava de ter certeza que lá vou chegar,mas não vou.A busca é sempre tão mais entusiasmante que o encontro,e o encontro é sempre decepcionante à imaginação.
Há quem crie amigos imaginários,eu criei um fim imaginário para a minha história.
Só queria uma casa,uma família,um cão e ir à escola,ao invés disso estou cada vez mais adulta do que os outros à minha volta.Há um relógio em contagem decrescente no cantinho do meu olho,e vai riscando uma lista de coisas que nunca hei de poder fazer.
Desta vez a culpa é minha.

quarta-feira, junho 09, 2010

Promoção

Não estou em promoção,muito menos para aluguer ou venda.
Não quero comprar,e estou bem sem vender.
Não vou mudar,não quero promoções,não me interessa se as mereço.
Não vou aceitar ofertas,não me vou oferecer,nem gosto da ideia de ser segunda opção.
Não vou matar ninguém para subir,não vou subir para matar ninguém,ninguém me vai mudar.
A palavra "profissional" é uma merda.

Estou bem por baixo.

domingo, junho 06, 2010

Infância

A infância devia ter a fase das nossas vidas controlada pelas autoridades.Devia ser perfeita,é ela que decide todo o nosso percurso até às outras fases,e é nela que aprendemos a importância de estarmos vivos,de sermos alguém.Por nós,para nós,e pelos outros.Todas as pessoas deviam ter direito a uma infância,a uma educação,a actividades,a amor,e a errar.Errar e saber que mesmo assim há alguém que nos ama incondicionalmente.Alguém que nos ampara as quedas,e mesmo que grite,está lá para reagir às coisas que ainda não consideramos erradas.
Infância é aquele flash que temos enevoado de uma praia gigante,enquanto apanhamos conchas e fugimos da espuma do mar que rouba os pés.É isso e dormir com alguém,chorar quando se cai,rir quando se toma banho.
Infância não devia ser fazer tudo e ser livre,isso devia ser tarefa dos adultos,procurar liberdade.É uma prisão feliz em que nos podemos sujar tudo e comer tudo sem nos preocuparmos com as aparências ou com a conta da água.É poder andar nu sem maldade e correr a gritar sem ser considerado louco.
Parecem novas crianças as de hoje.Preocupam-se em acabar jogos como se fosse um emprego,em tomar banho fora para não gastar gás,preocupam-se em recusar os pais que as recusam a tempo inteiro.Não deviam haver crianças para isto,deviam nascer e guardar a infância para quando as coisas forem diferentes,não desperdiçar aquilo que é precioso,e especial.
Onde está ela hoje em dia?Já não vejo crianças na rua...