Diário de uma Paixão

quarta-feira, maio 11, 2011

Carolina

Carolina passeava pela neve como se o dia não tivesse fim.Andou e andou até já não saber onde morava e qual era o seu numero de telefone.Carolina perdeu-se pelo caminho.
Não tinha fome,não tinha sede e a caminhada parecia-lhe o suficiente para preencher o vazio.Andou,andou e andou mais um bocadinho.Pálida como o redor,andou até achar que era demais e depois pensou: "O que será demais?".Ninguém nos ensina quando é demais,diz-se senso comum.Ninguém diz que é demasiado quando andamos tanto que já não sabemos voltar,ninguém.
Não era excepção,uma mulher também tem direito a perder-se,certo?E o que é que se perdia,na verdade?O começo?O sentido?E até que ponto é que o sentido é sentido?E fará assim tanto sentido?
A Carolina não queria saber mais de sentidos,esquerdas e direitas,frentes e lados,queria lá saber disso.O que importava era andar,e andar...E não sentir mais nada.

domingo, maio 08, 2011

PAF

Eu sei que também o disse.Eu peço desculpa se o disse.Eu sei que também o quis.

Chegaste ao ponto que eu um dia imaginei chegar,desististe.Avisaste toda a gente tão subtilmente que ninguém levou a sério.Toda a gente compreende.Que triste,isto de compreender o porquê de alguém se matar,não devia haver compreensão.Devia ser crime compreender isto.A verdade é que desististe e foste fraco e deixaste os teus em agonia,quando têm as mesmas razões que tu tinhas para desistir.
Talvez o tenhas decidido antes das dores se tornarem insuportáveis.Talvez porque já não conseguias ser um homem de 37 anos com desejos e sonhos.Talvez porque os quartos do lado se tornaram incomportáveis.
Eu sei que não havia mais por onde lutar,sei que perdeste a oportunidade de o fazer bem cedo,sei que a culpa foi somente tua.Ainda assim compreendo.
Sei que parece egoísmo,teres feito algo tão desumano no teu quarto,com os teus irmãos no quarto ao lado e a tua mãe a cozinhar e a tratar da casa porque tu deixaste de o poder fazer.Sabias perfeitamente que ela não ia ser capaz de voltar a abrir a porta do quarto...Tu sabias,mesmo assim não paraste.
A ultima vez que te vi ainda conduzias,eu sei que já não o podias fazer.Sei como é acordar num quarto e no outro haver dor e sofrimento,nada mais.Cheiro a vómito e mijo e terror.Sei.
Eu sei.
Gostava de saber quando é que arranjaste a arma,quando é que decidiste usa-la,se olhaste para trás e era tarde...Só gostava de saber.Gostava que não tivéssemos isto em comum e de não compreender-te.
Respeito-te porque te compreendo,e isso mete-me tanto medo...

Descansa em paz.

segunda-feira, maio 02, 2011

Cliché

"Espero só voltar a vê-la daqui a 6 anos".Disse ela num tom irónico.

É como acordar todos os dias num mundo negro,no meio do nevoeiro da certeza e do vento que não amolece.Nesse mundo é sempre tudo igual,cinza como o cigarro morto no cinzeiro à espera que o deitem ao lixo.É tudo certo.3+3 nunca foram tão 6,assim com tanta força.Secalhar se fossem 20 a luz era diferente,assim é sempre um cocktail de Outono e Inverno.
"Eu acredito que é uma menina com força para dar a volta",ao quê?Devia ter perguntado.Não se dá a volta ao que é certo,aguenta-se.
Há dias em que consigo dividir as horas.De manhã estou cá,à noite estou lá.Um dia negro outro sem cor,outro amarelo que doi na vista.
O cliché está por todo lado como as lojas de chineses,dizem por qualquer coisinha que se deve pedir ajuda.Eu pergunto-me a quem,onde,para quê e por quem.
Talvez para limpar a consciência...Quem sabe.
Eu pedi ajuda.

A ajuda veio em forma de comprimidos e cronómetros.6 anos,disse ela.6 anos.