Diário de uma Paixão

sexta-feira, março 02, 2007

Uma doença chamada Egoísmo

Passas despercebido.És aquilo que eu quero ser.És seropositivo.
Caminhas calmo cambaleando por entre os bancos almofadados confortaveis do comboio,do metro...Balbuciando com pena de ti próprio mas com uma coragem simultanea que te leva a tentar.Insistes a cada lugar por uma esmola,afirmas mais uma vez "Sou seropositivo",afirmas que tens fome,não podes trabalhar certamente.O teu corpo está coberto de feridas,ligaduras e pensos que escondem mais cicatrizes e sangue mal cicatrizado.
Eles passam e passam e correm e empurram,já foi ultrapassado aquele medo e preconceito que possas pegar alguma doença.Simplesmente querem passar por ti como se não existisses.Quando não têm hipotese,abanam a cabeça dizendo que não têm moedas,e tu quando terminas o teu discurso cansado abandonas a carruagem.Por entre fatos e gravatas e roupas de marca e sapatos de salto alto com cheiro a novo,imagino o dinheiro que gastaram.O que têm na carteira...E ainda assim não sentem nada.Nada.Nem pena,nem compaixão,nem uma moeda.Será que se lembram de ti quando já estão nas suas casas cheias e quentes,com os bolsos repletos de notas,que tu apenas pediste uma moeda?Será que escrevem algum dia como eu,que não te dei nem uma moeda,como se estivessem arrependidos de não o ter feito?São duvidas retóricas que tenho por vezes.
A vida é engraçada.Como terias sido tu em criança?Como terias tu apanhado tal doença?Onde estarás amanhã?Os dias passam e embrenhado na rotina de centenas de pessoas tu vais continuando...Talvez um dia já lá não estejas,e elas sintam a falta da tua voz triste e cansada,do teu cambalear desajudado pelo meio dos bancos.Nunca te vi sentar em nenhum deles.

É so mais um dia.Só mais um dia.Só mais uma moeda.

quinta-feira, março 01, 2007

Aquela musica

A musica vai tocando.À medida que ouço as cordas à luta umas com as outras lembro-me de ti,o som do teu baixo que ia tocando a cada palavra minha,indiferente ao teu mundo.À medida que a musica vai dançando no ar,eu vou respirando a sua magia,vou enchendo até não conseguir respirar,até querer morrer.É engraçado,porque se me perguntassem há uns tempos se estaria aqui agora a resposta seria patética.Claro que não.Era perfeito,lembras-te?Amor.Aquela palavrinha complicada e feia que soa melhor em inglês,e que eu te disse tanta vez...Tanta vez e todas elas levaram a resposta do costume,embateram contra uma parede de vidro que não parte.Um vidro mentiroso.Por ele me apaixonei,virei o meu mundo do avesso,a minha vida.Hoje não consigo chama-la vida.As minhas lágrimas de fogo não fizeram estilhaçar o teu olhar de cristal,nem sequer o escureceram.Os meus lábios de lâmina não cortaram o teu sorriso de papel...Acabei nas trevas do teu cabelo a esconder os olhos em convulsão.Sem ilusão.
Quero fugir,ou melhor,ir-me embora.Fugir faz parecer que me persegues,quando na verdade sou eu a faze-lo na minha mente complexa e rebuscada,não tu.Se o fizesses não precisava de me ir embora,mas a vida é mesmo assim.Eu acredito que tudo acontecesse por uma razão...Só espero perceber qual desta vez.Decidi partir,espero que me sintas quando for.Espero não sentir-te quando voltar...Se voltar.Aconteça isso quando acontecer.Estou a cantar a nossa musica.Aquela musica.

O futuro não cabe na palma da minha mão,por isso tive de dividi-lo contigo e fui roubada.