Diário de uma Paixão

quarta-feira, junho 25, 2008

Caminhos diferentes

Foste embora.Tambem tu.A casa,toda ela faz eco.É grande demais neste momento.
Não nos despedimos,nenhuma de nós gosta de despedidas e sei por que não o fizeste.Incrivel como apesar de teres mais 6 anos que eu,sempre te olhei como irmã mais nova.Sempre senti necessidade de te dar sermões e te ajudar e tomar conta de ti quando achava que devia.Estou aqui a pensar se chegaste bem mas não te vou dizer nada.
Foram 7 meses quase 24 horas por dia a aturar-te.Podia ter sido só em casa mas afinal,somos amigas,trabalhavamos juntas,aliás,foi no trabalho que nos conhecemos,e apesar de tanto tempo nunca me consegui zangar a sério contigo.As vezes que deixaste a loiça por lavar e a sala desarrumada,as vezes em que não te calavas quando eu queria estar quietinha,as vezes em que tambem tu me deste na cabeça porque tinha medo do compromisso.As vezes que me ensinaste a crescer e ultrapassar e arriscar.Se não fosses tu provavelmente não estaria aqui agora,pelo menos no lugar em que estou.
Lembro-me agora que há um ano atrás,estavamos nós no Flagrante,e tu choravas porque te sentias perdida,não sabias mudar o que estava errado embora soubesses exactamente o que era.Eu disse-te na altura que gostava de ter o que já tinhas,de ter a tua força,de ter um curso,de viver sozinha,e não te disse na altura,mas gostava muito de ter a tua capacidade de admitires que amavas e sofrias com isso.
Vou ter saudades das nossas idas à esplanada do miradouro,das nossas idas ao bairro alto,dos nossos jantares,das nossas bebedeiras,das nossas conversas,do teu insuportavel rádio que 90% do tempo passava reggae,dos nossos almoços em frente a jornais à procura de casa,da nossa partilha de coisas e do companheirismo,da amizade...Até das simples idas ao Pingo-Doce.
Se senti falta quando a outra foi embora,e fechei a porta do quarto dela como se não existisse aquela divisão vazia que fazia eco,imagina a falta que sinto agora.
Olho para a loiça por lavar e para a cama que servia de sofá onde dormiste tantas vezes a ver televisão,e penso que realmente o tempo passa depressa,e as coisas mudam...
Passei um ano e meio a incentivar-te a enviares curriculos e trabalhares na tua área,fico feliz por finalmente teres conseguido e desejo-te a maior sorte do mundo,porque sei que não vai ser tarefa fácil voltar a morar com familia na santa terrinha que é o Alentejo.Não posso esconder o dificil que foi habituar-me a esta mudança,que para mim,acredito que tambem vá ser positiva.Não vou mais dividir espaço com ninguem,vou viver sozinha,aguentar-me sozinha sem ter com quem desabafar sempre no quarto ao lado,vou pagar as contas sozinha e ter saudades disto.Dizem que viver com alguem não é fácil,que corre sempre mal,eu não fiquei com essa imagem embora nenhuma das duas tenha um feitio propriamente fácil.Foram meses especiais para mim,secalhar muito graças aos teus sermões.
Aprendi a acalmar,a acreditar nas relações entre as pessoas,a acreditar na amizade,acreditar no futuro,a ser mais positiva,e principalmente a ter esperança que tudo vai melhorar.
Amanhã não vou ter de bater à porta do teu quarto para te acordar,não te vou ver chegar ao trabalho nem te vou ter à espera no miradouro para bebermos café e ouvirmos as desventuras amorosas uma da outra,mas se um dia destes leres este texto,espero que saibas te tornaste numa das pessoas mais importantes da minha vida por isto tudo e mais algumas coisas,e que apesar de não estares cá todos os dias,eu vou estar cá à tua espera sempre que vieres a Lisboa,para o nosso café no miradouro da Graça.

Boa sorte.

quinta-feira, junho 19, 2008

Necessidade

Estou demasiado cansada para esconder mais,esconder o medo de voltar.Escondo o medo de não ser capaz.
Cansada como nos cadernos pretos,com aquela dor de cabeça incomodativa que não larga o meu pensamento,com aquela dor.
Dor de respirar,dor de repensar aquilo que pensava no pico da adolescência.Dor de pensar nos comprimidos e no sono.Dor de pensar no fim.
Não posso querer um fim...Não posso.Já lutei tanto,já me cansei tanto,será que estou a desistir?Eu nunca desisti...
Nunca pedi para ganhar.Nunca soube o que isso era.Só queria empatar.Parar o jogo,dar-lhe um fim,parar de jogar,poder descansar.
Aquele aperto na garganta que não deixa falar,que não deixa secar.
A lacrimologia não leva embora a angústia que é querer o que não há.
Digo sempre não saber o que quero,na verdade eu sei bem o que queria.
Só queria uma vida simples,só queria que não fosse tudo tão difícil...
Dizem que os pais amam os filhos incondicionalmente,eu nunca vou ser mãe,pelo simples motivo de não me atrever a magoa-los.Amor é isso,não o contrário.
O meu problema é não ter casa,não ter lar,não ter familia,não ter descanso,não ter estabilidade,não ter facilidades,não ter amor.

"Não és a unica a ter problemas Cátia."

segunda-feira, junho 16, 2008

Asas

Em busca de paz nas suas vontades,em busca do inalcançavel,como boa humana.
O fácil não tem graça.A luz tem.
Lentamente atingindo as metas calculadas,o atraso é a caracteristica mais deliciosa do Homem.
O rápido não tem piada.As cores têm.
Os copos partem-se no colo da que não se corta por imunidade.Os estilhaços são belos.
A simplicidade acontece,não se provoca.
A beleza dos estilhaços é tanta que chega a ser brilhante a sua beleza.
A unica certeza é o riso,o unico sorriso é o olhar,e o olhar está lá no alto.
A unica coisa fácil na vida que tem realmente piada,é olhar o céu.

domingo, junho 15, 2008

Final feliz

Do ínicio para o fim.É assim que se deve contar uma boa história,eu cá hoje acabei uma das boas.
A vida é composta por várias histórias,umas mais longas,outras mais pequenas,mas umas quantas.
Quando comecei a escrever este blog tinha para aí 16 anos,aquela novidade da internet,de querer guardar num lugar publico aquilo que escrevia e aquilo que sentia,um lugar que não ia poder rasgar como a alguns dos meus cadernos da altura.Comecei a escrever isto ao som de uma musica de Silence 4.Podia ter sido ao som de Tool,foi nessa altura que se tornou na minha banda preferida e na base de muitas das minhas teorias de vida,mas não.Foi ao som daquela musica que passou na rádio durante anos e ainda hoje passa de vez em quando apesar de já não o ligar.
Naquele tempo,planeava já a saída de casa dos meus pais,ainda não tinha noção de que iria deixar a escola,nem de que me viria a apaixonar por Lisboa,a capital que tanto amo,não tinha noção de que cada vez iria escrever menos e trabalhar mais,de que ainda tinha tantas viagens pela frente.
Há momentos em que sentimos aquele estalo,sorrimos,e ganhamos consciência do quanto é bom viver apesar de todos os sacrificios e todas as injustiças.Há momentos que nos ficam gravados na cabeça como imagens paradas que se movimentam,e durante toda a vida vamos recordar de vez em quando.
Eu digo ínicio e fim,não porque vou deixar de escrever neste blog,não faço intenções disso,mas sim porque até este exacto momento sempre escrevi da mesma forma (apesar da evolução,das mudanças etc) sempre escrevi dentro daquela história,esta.Onde eu seria a personagem principal,a personagem certa na história errada como gosto de lhe chamar.
Comecei a conta-la ao som da Angel Song,e hoje passados anos,5 anos,voltei a ouvir a musica e senti aquele "click",por palavras é como se tivesse encontrado aquilo que procurava quando íniciei todo este romance.Encontrei paz,apesar de não parecer,encontrei.Sei o que quero,sei para onde vou,e sei como não desviar-me do caminho.
Hoje,ao ouvir os acordes da guitarra,lembrei-me de como ouvia a musica vezes e vezes sem conta em Ibiza,de como a ouvia repetidamente em noites de insónia de Verão,na casa dos meus pais,de como a ouvia na minha cabeça nas ultimas aulas em que estive presente.
Terminou aqui a história que contava,começou aqui uma nova.Há quem lhes chame capitulos,eu prefiro chamar histórias,faz-me lembrar das que a minha avó me contava,a minha avó que me deixou a meio deste blog.Tinha de ser ao som disto...
A perfeição não existe,ainda bem que não.Ao contrário não me daria tanto gozo estar a escrever isto sem intenção que seja escutado ou compreendido.A unica intenção,é escrever este final feliz porque não sei quando será o próximo,sei que o haverá.
Agora,por enquanto,só quero aproveitar o momento,aproveitar ao máximo cada pormenorzinho enquanto dura,porque hoje acredito que as pessoas até valem a pena,só precisam de se dar uma oportunidade a elas mesmas.
Hoje,estou disposta a dar-me uma oportunidade.E aos outros.
Não vou citar o "felizes para sempre",para sempre é muito tempo,e os meus pés estão bem assentes na terra.Vou citar o blog title que coloquei neste blogzinho lamexas em 2004 quando o criei,entre aspas,claro,como se tivesse sido dito por outra pessoa que não eu.Já não posso dizer ser aquela miuda,já não sou,embora me sinta orgulhosa de ter sido um dia,e por ter começado algo que nunca pensei ter tanto peso na minha vida.
Quero só olhar para este texto egoísta que só eu vou perceber,e lê-lo daqui a uns meses,anos,para me relembrar que vale a pena.O mundo vale a pena.

"Sing me the angel song, you'll make me happy".

quarta-feira, junho 11, 2008

Compreensão

Hoje preciso de espaço.
Preciso de espaço,do meu espaço.Não tenho.Não me dão.Não consigo.
Hoje preciso de mim.
Preciso de me concentrar.Não consigo.Não me deixam.Não está fácil...
Hoje preciso de respirar,que não me digam "devias".Hoje tenho a certeza de não estar errada.
Hoje não é dia para me pressionarem.Não é dia de me esperarem.Não é altura de esperarem seja o que for de mim.
Hoje não posso garantir nada.Não posso dar nada.
Hoje não me posso apoiar mais.Hoje não me apetece controlar mais.Não consigo fingir como sempre.
Hoje,hoje senti as paredes irem abaixo.
Eu sei o que são sacrificios,eu sei o que é fazer esforços,eu sei o que é ceder,eu sei o que é precisar de apoio e não ter,eu sei o que é querer mais tempo e não poder.Eu sei o que é ter o mundo nas mãos e mais mão nenhuma para dividir o peso.
Eu sei que a vida não é justa,mas então o que é justiça se para mim não existe?
Eu sei que lixo muita coisa,mas será que muita coisa não me lixa tambem a mim?
Eu sei o que é ter respostas,sei o que é tê-las e não gostar delas,sei aguentar.
Eu sei tudo o que tenhas para me dizer,mas não estás no teu direito de não me dar valor.
Hoje sei que o tempo cura tudo e tambem traz soluções para tudo.Hoje não me apetece esperar pelo tempo.
Hoje,hoje não sou o que nunca serei.Cinema é na tela.
Hoje estou cansada,por muito que o hoje já dure há mais do que eu gostaria.Hoje há muita coisa que me foge das mãos e me fode o juízo.
Hoje não me apetece que haja amanhã,porque o amanhã vai ser hoje.
Tal como ontem.

quinta-feira, junho 05, 2008

Xeque-mate

O corpo perde-se na escuridão da incerteza.Nunca fez sentido delinear o caminho todo,mas tambem não faz sentido estar sempre a desvia-lo.Nunca e sempre,sempre e nunca,quase às vezes.
A mente perde-se no ofuscante prazer da iluminada incerteza.Nunca pensei jogar,mas tambem ganho aos poucos consciência de que a vida é um jogo de xadrez.
A incerteza reina num trono impossível de derrubar,mas impossível?Impossível é nada.
Quadrado negro,quadrado branco.Um passo em frente,3 para trás.
O corpo precisa por vezes de um empurrão,ou a peça dá tempo ao adversário.O tempo ocioso é o brinquedo do demónio.Quanto mais se o dá,mais se perde.
Eu preciso de tempo para não perder mais tempo.
Eu preciso de colocar o peão em xeque-mate.
Morte ao rei,vida a mim.
Só preciso de saber afinal de que lado do tabuleiro estou,já aguardo resposta há demasiado...Tempo.