Diário de uma Paixão

quinta-feira, novembro 30, 2006

Contagiante

terça-feira, novembro 28, 2006

A minha alma chove

Fumo enquanto chove lá fora.O fumo que sai por entre os meus lábios parece a minha alma.Sempre ouvi dizer que se devia sentir tudo com alma,dar tudo com alma,viver com alma.Nunca pensei muito no assunto durante 20 anos.Decidi um pouco antes de os fazer que havia de sentir com alma,mesmo que fosse a primeira e ultima vez.Nunca pensei que fosse tão fácil,nunca pensei que fosse tão complexo,nunca pensei que fosse tão rápido.Engano-me.O fumo não me leva a alma,alguem de fora a levou.Faço um esforço quando deito o fumo fora para que o que resta da minha alma vá com ele,mas não vai,não me obedece,não tenho mão nisto.Que raio fui eu fazer?!Se o arrependimento matasse nunca me havia dado a oportunidade de sentir,teria morrido hoje,mais que nunca outro dia da minha vida.A chuva confunde-se com as minhas lágrimas quando tento convencer-me que como tudo vai passar,até a chuva vai passar!Em vão...Eu sei que não vai passar,ou pelo menos não vai passar tão depressa como das outras vezes,tenho de aprender uma nova lingua,tenho de aprender a lidar com isto.Odeio-me por me fazer tanto mal,odeio-te por me deixares.

Oh chuva leva-me as lágrimas contigo,enterra-as bem na lama para que sequem,evapora-as bem para que se tornem transparentes.Leva-me contigo...

domingo, novembro 26, 2006

Insónia de vidro

Não durmo desde que partiste.És tu a partir ficando e eu a ficar partindo...A presença física diz tanto,nem tu imaginas o quanto.Eu imagino.Não mais que imaginar posso agora que disseste adeus sem abrir a boca,sem mexeres os lábios sequer.Acho que estou só à espera que te despeças de mim com o teu ar querido de sempre,como quem me diz "gosto de ti,mas nem tanto..."
Um turbilhão de imagens assaltam-me o pensamento,não consigo praticar a minha melhor arte.A minha arte de destruição.Não durmo porque a minha cabeça parece um tornado de coisas que se passam à minha volta sem as conseguir apanhar,o vento é mais forte que eu,tu és mais forte que eu porque me aguentas sem te despedires,e eu aguento-me sem te dizer para ficares.Não mexi os lábios,fiquei estática como uma estátua antiga e fria.Queixo-me da falta de sono,mas acredito que não é falta dele,os meus olhos estão pesados e mortos como as minhas olheiras de cansaço.As minhas mãos fracas e moles como o meu pensar,ainda assim não param.A luz do telefone irrita-me,ilude-me.Apetece-me gritar com toda a gente e todas as coisas que me aparecem à frente.Atiro-me para a cama como se lhe batesse.Olho para o tecto e culpo-o por toda aquela ilusão que ele me criou,as musicas que me fez delirar,as imagens,os sitios,o toque.Tenho sono e não vou dormir.Ainda podes aparecer.
Queria tanto que não tivesses ido...Ainda estou a olhar para a porta à espera de te ver chegar,à espera de te ver ficar,à espera de te ver partir...à espera que me quebres.

sábado, novembro 25, 2006

Cartas de amor e Obituários

Eras tão bonita.A tua cara de menina crescida com o cabelo a escorrer-te rosto abaixo e o teu sorriso luminoso faziam crer que havia esperança no mundo.Por vezes olhei para ti e pensei que aquelas histórias infantis de contos de fada eram inspiradas em ti,eras a minha branca de neve,a minha bela adormecida.Tenho pena que não tenhas esperado para te dizer o quão bonita ficavas nas tuas roupas pretas que faziam contraste com a tua pele cor-de-neve.Ninguem sonha como eras graciosa ao sair de casa sob a luz matinal que fazia arder os olhos,eu sonho.Fechavas a porta com cuidado para não incomodar vizinhos nem dar nas vistas,julgavas que ninguem no mundo sabia da tua existência,daquelas tuas saídas matinais para comprar cigarros e ver a serra ao longe com as nuvens a dançar sobre ela.Por vezes saías graciosa como sempre,com lágrimas nos olhos e ecos de gritos e violência no sorriso.Por vezes...Por vezes respiravas tão fundo que se ouvia dois prédios ao lado,e abanavas a cabeça de maneira a que os teus longos cabelos brilhantes saltassem para trás dos ombros,como se dissesses: "é só mais um dia..."
Eras tão triste que os vizinhos comentavam.Tinham pena da vida que levavas,outros simplesmente gostavam de te usar para ter de que falar em jantares de familia,"aquela miuda do andar de cima,tem uma vida complicada...tão novinha."
Tinhas os teus amores.A tua gata,que dormia contigo todas as noites enrolada na tua manta preferida e nos teus braços.O teu melhor amigo,que tinha mais paciencia que ninguem para as tuas crises existenciais depressivas.O teu pseudo-namorado,indiferente a tudo por muito que lhe quisesses chamar à atenção.A tua mãe,que apesar de tudo era o teu orgulho,a tua heroína.Nunca nada nem ninguem era suficiente.Eras uma peça sem correspondente,eras um mono puzzle impossivel de acabar...Nunca ninguem soube.
Vou ter saudades de te ver olhar pela janela do quarto enquanto dizias "eu vou sentir saudades disto",na esperança que um dia,em breve conseguisses finalmente sair daquela casa,como se de uma prisão.Vou ter saudades das tuas gargalhadas exageradas quando bebidas vodka em noites perdidas pela cidade.Vou ter saudades do teu perfume,o mesmo desde os teus 14 anos...Nunca,nada,nem ninguem reparou.O teu ódio pelo tempo finalmente fez jus às tuas palavras constantes:"vou morrer cedo".Não foi a nicotina nem o teu desejo de estabilidade que te fez dizer aquilo,sabias bem o que dizias embora te achassem louca.Demasiado louca para este mundo,demasiado louca para quem te amava.Não chegaste a fazer aquela banda e aquela peça de teatro que tanto sonhavas...Não chegaste a fazer o interrail,não chegaste a voltar a França nem chegaste a fazer metade do que tinhas planeado fazer.Gostava que me tivesses deixado metade dos teus sonhos.Tinhas tanto medo de morrer sem completares o puzzle que lhe deste razão,deste razão ao teu medo.
A menina de preto cor-de-rosa que não olhava nos olhos das pessoas e adorava o mar.É assim que te descrevo agora que partiste,embora tu sejas eu,e nunca,nada,nem ninguem,alguma vez escreveu o seu proprio obituário.Eras diferente,continuas a sê-lo,ninguem o vê,ninguem o viu a tempo...
Descansa em paz,minha menina.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Eufemismo

Apetecia-me dizer-te para fingires.Apetecia-me fingir eu tambem,que está tudo bem.Apetecia-me evaporar-me por instantes do mundo,e ver que falta que faço no fundo.Queria que me dissesses aquilo que não vais dizer,para eu ter noção daquilo que estamos a perder,e esconder-me quando a chuva passar quando não tiver mais nada que olhar.Gostava que a tua indiferença me fosse indiferente,para não fechar o teu olhar quando mente.Gostava que fosses meu,assim como o meu coração é teu,e pertence tanto à terra como ao céu,nos segundos em que me beijas,em que me deixas.Dava tudo para saber o que te vai na cabeça,que me desses em retorno uma promessa,que jamais me deixavas cair no abismo.Queria que isto tudo não passasse de eufemismo.
Esquece tudo,não te lembres do que eu quis,perdoa-me se algum mal te fiz,não te esqueças que nunca fui boa actriz,e não me roubaste o que não tenho por um triz.
Queria que acreditasses,queria que soubesses,dava tudo para que pensasses,gostava que gostasses...
Que quando digo que te amo,tambem é um eufemismo.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Lake of dreams

terça-feira, novembro 21, 2006

Líbido

Branco sujo e manchado.Assim te vejo nas ondas sadisticas disformes do tecto onde adormeço o meu olhar sedento de saliva.A minha mão cansada encosta no cobertor cor-de-vinho e faz-me virar a cabeça para a ver,lembro-me do toque.Os teus lábios sábios de desejo na minha pele,nos meus lábios,nas minhas ancas salientes.O cheiro a remédio de asma e ao meu perfume.As ondas não mexem,não andam,não fazem os dias parecerem menos longos.Sinto uma paz egoísta ao lembrar-me que estás ocupado,sinto-me vazia como as nuvens invisiveis das paredes.Ouço jazz e sinto-me uma intelectual romantica de primeira.Desejo-te aqui,desejo os teus cabelos àsperos no meu peito enquanto me beijas o pescoço e me deixas marcada.Sinto a tua falta.Respiro...Não sinto nada,o meu corpo é um vale deserto que ainda ninguem encontrou algures no mundo.A luz desmaiada do meu quarto prevê que voltas,eu prevejo que já cá não estou quando chegares.A luz mente-me e eu minto-me.Pinto os meus pensamentos de vermelho e as minhas esperanças de uma cor que ainda ninguem inventou.Tanto,tanto...
Os comprimidos são tão sensuais no elevador do meu ventre,a musica já não faz sentido,nem eu.
O desejo é o inimigo da lucidez.És tu a minha doença,e a minha cura.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Joga comigo

É tudo um jogo,meu caro.Eu não sou eu,tu não és tu,isto não é isto e aquilo tambem não.Sim,eu sei que sempre disse que odiava jogos,não mentia.Faz parte do jogo.Eu odeio porque estou presa nele até à vitória de uma outra parte,a morte libertar-me-à desta prisão imaginária em que não há empates.Moves uma peça,eu recuo outra e assim vamos continuando...Tu jogas os teus trunfos eu vou guardando os meus.Sempre adiei tudo para mais tarde,e tu dizes "para quê deixar para amanhã o que podes fazer hoje?",eu digo-te "não sei".
Não é defeito é feitio,perco mais uma jogada,preparo-me para mais uma desforra previsivel.Tu delicias-te com o meu olhar de derrota enquanto eu me delicio com o teu sorriso de vitória.Eu recuo todas as peças e lanço um trunfo,tu mudas de tática.Eu sorrio e tu olhas para baixo.Eu levanto-me e deixo o jogo em aberto.Primeira desistencia,rezo para que te levantes e me agarres o braço,mas tu não te moves...Eu olho para trás,sorrio para o tabuleiro vazio,olho-te com lágrimas nos olhos,aceno como se os meus lábios dormentes dissessem "adeus,vem atrás de mim",tu olhas-me com um olhar triste e um sorriso invisivel como se me respondesses "não vou."
Agora que todos os trunfos foram jogados e viste todas as minhas derrotas por um simples sorriso teu,ainda queres jogar comigo?
Eu podia ter ganho sabias?

sábado, novembro 11, 2006

Indiferença

Hoje deste-me a tua indiferença.Eu pensei que me fosses dar tudo menos isso,tudo menos aquela linha ténue entre o amor e o ódio,à qual alguns chamam amizade,eu chamo indiferença.Como a diferença de uma cor para outra,há sempre aquela que não tem nome,nem sequer chega a ser cor,é transparente.Fui vidro.Transparente e frio como uma gota de àgua que me desliza agora dos olhos,como o mar que nos olhava quando me deste o primeiro beijo.Primeiro de muitos,que pareciam sempre poucos.Senti-me frágil como um copo de shot que alguem usou para apagar memórias com vodka ou absinto,e depois de fracassar,porque em vez dessas memórias desaparecerem apenas voltaram a dobrar,o atirou ao chão,partindo-o em mil pedacinhos cortantes sujos de sangue.
Já não sabia o que era isto.Um isto tão complexo e tão simples que me leva a mim mesma a chamar Saudade.Falta de mimo talvez.Não tens tempo.Não me deste a unica coisa que te pedi entre tantas que podia ter pedido,o teu tempo.Tenho tempo demais é verdade,mas mesmo que não o tivesse,ele seria todo teu,nem que fosse apenas na minha cabeça.
Hoje deste-me a provar o meu próprio sal,da àgua morna e dolorida que me saía dos olhos.Deste-me a tua indiferença como se a minha ausência não significasse nada.Nada.
Deste-me a certeza que ainda sei o que são Saudades,se é que lhes posso chamar assim,e a certeza que sei o que sinto.Antes não sentisse.Deste-me isso tudo,como podias ter dado o mundo,e eu choro porque quem me dera a mim sair desse mundo,e ainda assim poder estar contigo...Eu só queria o teu tempo,nada mais.Tu deste-me carinhosamente a tua indiferença.

terça-feira, novembro 07, 2006

Apatia e Vazio,Riso e Ironia

Às vezes tenho a leve impressão que a vida nos goza.Mas com um sarcasmo genial e macabro.Fica à porta de nossa casa a rir-se enquanto a vemos passar sorridente e maléfica,como um demónio disfarçado de bobo da corte,uns acham-lhe piada,outros temem-na,outros simplesmente apáticos de tanto mal,tanto sofrimento,olham.Observam-na com medo de que possa acontecer ainda mais alguma coisa para os enterrar,mais fundo,ainda mais fundo que o fundo da Terra.É um olhar vazio que não chora nem se move,como se o mundo fosse um Nada,a Vida,um palhaço mau que nos goza durante anos.
Às vezes sinto-me uma marioneta,um boneco,um brinquedo velho e partido manipulado quando mais convem,quando lhe sobra tempo e o ócio é maior que o sentimento de solidariedade dessa bruxa,que se ri da minha dor,a Vida.
Deus?Deixem-me rir...Deus é aquele que é justo e ajuda quem mais precisa e não deixa que nada de mal aconteça e perdoa todos aqueles que cometem o mal e se arrependem bla bla,é não é?Se Deus existisse tirava-nos a todos a Vida,pintava as nossas janelas de negro para que ela não se sentisse tão bem ao ver-nos gemer de dor e sucumbir à loucura.Deus se existe é mau e cobarde,ele próprio tem medo do que criou,tem medo de nos proteger,passa tambem ele apático aos males do lado de fora da nossa janela,enquanto as lágrimas escorrem pelo vidro como chuva torrencial eterna num dia de Novembro.
Estou cansada de ser brinquedo,admito...Realmente a vida tem a sua piada.E a minha ironia tambem.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Poço

Cheguei ao fundo do mundo num cansaço profundo...
A vida essa areia movediça enguliu-me...Diz-me que não,diz-me que não...
Tanta vez vi a mão que me puxava do fundo...Mas não agarrei.Diz-me que não...
Cheguei ao fundo do mundo sinto-me tão imundo
A podridão da vida sujou-me...Diz-me que não,diz-me que não...

Fogo...Todo eu ardo em chamas,os meus olhos são lume.
Deixa-me sentir o teu perfume...Diz-me que não...não.
Voar...Para longe do mundo fundo profundo,desta prisão...
Diz-me,"não".

Cheguei ao fundo...(do mundo)...cansaço profundo...
Faz-me a vontade...Diz que não.