Diário de uma Paixão

segunda-feira, outubro 30, 2006

Leva-me a casa

Costumam dizer,aliás toda a vida me disseram que "lar","casa",é o sitio onde temos o nosso coração.O sitio que nos faz ter saudades das coisas mais pequenas quando estamos longe,até daquela prateleira do frigorifico que tem sempre o que mais gostamos,aquela que só tem iogurtes,maçãs verdes e comidas com cogumelos que mais ninguem gosta.Eu nunca soube o que isso era.As poucas vezes que estive longe,muito ou pouco tempo,noutro país ou na casa da vizinha,a ultima coisa que sentia saudades era da minha casa.Nunca cheguei a saber o que é sentir-me em casa,na minha casa.Nunca soube o que era olhar para um homem mais velho,que supostamente nos pôs no mundo,e pensar "este é o meu heroi,apesar dos seus defeitos eu admiro-o,amo-o,é o meu pai".Tenho pai e não tenho.Nunca lhe chamo esse nome,nunca lhe peço ajuda quando preciso,nunca falo com ele dos meus problemas ou das coisas boas que me acontecem.Até eu acho estranho,sim.
Acho ainda mais estranho que essa pessoa a quem devia admirar e amar por ser do meu sangue e ter as minhas feições,por me ter posto no mundo,por ela só sinta ódio.Fujo do quarto para a casa de banho e dessa para a cozinha na esperança de não me ter de cruzar com ele,na esperança de me sentir em casa apenas no meu quarto desarrumado e sujo,mas que até cada grãozinho de pó fui eu que o produzi.Não sinto mais.O cor-de-rosa destas paredes já não me trazem segurança,quero fugir,quero procurar a minha "casa",aquela sensação de conforto quando se chega do trabalho ou da escola,quando nos sentimos sós.Nunca senti ódio,a não ser pela pessoa que o pôs no mundo,e ele próprio por me desprezar.Às vezes gostava que me odiasse tambem,sei que não odeia,apenas despreza,finge que não vê,e quando vê...Era melhor que não tivesse visto.O meu próprio pai é a razão pela qual desejava nunca ter vindo ao mundo,a razão pela qual desejo a minha morte.A razão pela qual não quero ter filhos,porque temo um dia ser como ele.
É triste sentir-me sozinha em casa quando há sempre alguem na sala.É triste escrever este pseudo texto depressivo e revoltoso e ser real,não ser fruto da minha imaginação de escritora pequenina.

Quando tudo o que nos cerca é "gente",preferimos mais que o mundo estar sozinhos."Gente" é apenas "gente",pessoas têm significado,nem que seja apenas odia-las.

domingo, outubro 29, 2006

Suor eterno

Sinto uma gota de suor a deslizar-te pela face,da tua para a minha,estão coladas.Os meus lábios não conseguem respirar sem os teus.Beijo-te até os ter dormentes,insensiveis,para que não os sinta quando os largar.
Existe um movimento Norte/Sul delicado e sensual,existe um medo e uma vontade secreta e perversa de nos magoarmos ao provocarmos esse movimento à velocidade da luz.Mas não o fazemos.
Sinto-te a pele macia e quente coberta de vapor,se a minha alma nos visse de fora diria que temos uma nuvem de fumo à nossa volta.A temperatura sobe,nós tambem.
Estás quase lá.Eu evito chegar,porque sei aquando da minha chegada que é o fim.As minhas unhas cravam-te a cor de sangue a pele branca e frágil,as tuas mãos fazem-me sentir os ossos,uma dor inexplicavelmente prazerosa e viciante.És um vicio.
Os pingos do teu suor inundam-me agora unidos com os meus.Trocamos de lugar,vou para Sul,volto ao Norte,prolongo o Centro como um passeio primaveril em Lisboa.Tremes,gemo,estamos a chegar.Despeço-me de ti com uma visita à vila mais longinqua do Sul,nunca estive tão fundo...Doi.Mas o teu prazer delicia-me a carne dorida,os teus olhos sedosos e a tua asma acordada,fazem-me pensar que sou capaz de tudo!Fui aos confins dos fins do mundo.
Regresso exausta e satisfeita,nunca o meu sorriso brilhou tanto,nunca o teu peito me pareceu tão refugiante como agora.Estou segura de toda a queda que possa haver no céu.

O eterno parece tão fraco agora que o nunca foi vencido.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Eu sei o que é amor

Se me pedires para fugir contigo,não precisas esperar pelo "sim".Não consigo pensar duas vezes em ficar neste mundo sem ti,nada faz sentido.Tu tambem não.Não disseste que ias e eu já penso na dor que vou sentir ao ver-te partir.Não vás,ou leva-me contigo,é tão fácil quando se quer não é?Eu quero,e tu?
O meu cansaço está a chegar a limites infindáveis de uma espécie de vida que criei para ti dentro de mim,estás a morrer por dentro de mim,e eu a morrer por fora porque por dentro já só existia vida em ti.Lágrimas que não caem doem mais.O brilho que tenho nos olhos não se chama felicidade.
Uma vez perguntaram me o que era o amor,não respondi,não fazia ideia do que era.Para mim o "fogo que arde sem se ver" era tão bonito,que a teoria bastava para existir.Hoje tenho uma floresta queimada em segundos por uma chama só.Não se apaga com àgua,mas com beijos,e mesmo assim continua a doer...a arder.
Disseram-me,amor,é aquilo que te faz acordar e adormecer a pensar em alguem apenas.É respirares o nome dessa pessoa,é chorares as lágrimas com o sorriso dela espelhado,é chorar e rir e sexo e magia.E sim.Penso que seja isso tudo,mas hoje descobri a minha versão própria e dolorosa de "amor"...e só consigo dizer:
"Fica."

O amor é o que faz querer ir para o fim do mundo,é ir ao fim do mundo e voltar,e não sair do mesmo lugar.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Estrelas e Sapos

Quando eu era pequenina,tão pequenina que cabia nas saias da minha mãe,contavam-me histórias sobre princesas,estrelas e sapos.Sapos que se transformavam em principes encantados.Como todas as meninas eu tinha medo de sapos,aquele seu aspecto viscoso e imprevisivel a qualquer salto metia-me medo.Na verdade ainda tenho esse medo,agora com quase 20 anos,com um mundo debaixo das saias.Mas sonhava...sonhava quase tanto como agora ou ainda mais,não me lembro bem.A areia de um parque infantil levava-me a pensar que um dia por debaixo daqueles grãos me apareceria um sapo encantado,eu perderia todos os medos,dava-lhe um daqueles meus doces beijinhos e o mundo cresceria para mim.Seria senhora de mim,dele,dos beijos,das estrelas e usaria saias grandes como as da minha mãe.
O sapo nunca apareceu.
Agora com quase 20 anos por baixo das minhas próprias saias vi um sapo,enquanto tu serenamente como de costume me dizes "levanta-te,está ali um sapo",e eu como uma menina pequenina que foge para debaixo das saias da mãe,levanto-me,acedo ao teu pedido e agarro-me a ti como se a uma tábua de salvação.Ris-te,e isso simplesmente faz-me feliz.Vivo e respiro no teu sorriso e nos teus cabelos como que se estivesse embrenhada em sonhos,a dormir na minha cama cor-de-rosa.És doce e quente como ela.És o meu ninho,és o meu chão.
Vinte anos passaram e só agora encontrei o meu sapo,não precisei de o beijar a ele,e não saíram dele estrelas mágicas,até porque os teus beijos lhes roubariam toda a magia.Elas já lá estavam,eu é que lhes invadi a casa como que entrando por uma porta sem bater.Não fugiram,tu tambem não.Eu senti-me criança num conto de fadas tornado realidade,no sitio mais longe do mundo,porem conseguia observa-lo,por fora das suas linhas ténues sujas,abraçada a uma pureza e simplicidade que só consigo comparar com isto: Estrelas e sapos.

sábado, outubro 07, 2006

Medo

Beijaste-me.Digo isto com aquele ar de surpresa e ameaça ao mesmo tempo,aquela antítese deliciosa de quem se apaixona dificilmente por alguem.Beijaste-me a meio daquela noite que não devia ter fim,fizeste-me tua ao primeiro toque do teu labio inferior à minha lingua suave e doce.Não sabes.Eu sei que não sabes pela maneira como repetes esse mesmo beijo tantas vezes que me parecem nunca.Nunca devia acabar.Maldita a noite em que me fizeste tua.
Beijaste-me.Abracei-te e perguntaste-me o que se passava,eu perguntei o que pensavas tu.Disse-te "Tenho medo.",e tu quase que perdido de medos pelo meu medo perguntaste,"Medo?De quê?",chamando-me aqueles nomes aparentemente negativos que eu acho tão carinhosos e tão intimos."Tenho medo de ter saudades tuas quando chegar a casa".
Há noites que se deviam estender para sempre,como se o Sol jamais nascesse após aquelas horas de ternura,a que produzimos em suor a cada vez que a nossa pele se toca.Despedi-me de ti com mais um beijo que mais parecia um choque de lábios com medo de se se pararem,disseste-me para ter juízo,eu disse que o tinha sempre.Mentiras.Eu raramente tenho juízo.Por ti ganhei-o.
Ao chegar a casa quase de manhã,tranquei a porta do quarto e os meus olhos encheram-se lágrimas,não sabia se de felicidade ou tristeza,sabia que por medo eram de certeza.Tive saudades tuas mal fechei a porta do prédio e os meus pés tocaram a escada para minha casa.
Se perguntasses agora de que tenho eu medo,já não faria sentido o mesmo porquê que te dei pela primeira vez.Mas tenho medo...muito medo.Medo que as saudades se vão embora,medo que nunca me deixem,medo que não tenhas saudades minhas quando chegares.Medo.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Tragic lines

...Adormecida

quinta-feira, outubro 05, 2006

Momentos

Sócrates,Platão,e esses homens todos de inteligencia extrema e pensamento musculado achavam que a alma não morria,era eterna.Na dita "morte",o corpo separava-se da alma,sendo isso uma purificação,e algo pelo qual todos deviamos esperar e desejar,aspirando ser apenas mortos.Hoje dei por mim a pensar,e pelo dia que é,que não é só a alma que não morre,o momento tambem não morre.Os sentimentos,as pessoas (corpos em si),os sitios,tudo isso é bem capaz de morrer,somos bem capazes de nem nos lembrar de como era sentir o que outrora sentimos,por mágoas,dores,o que seja.Mas momentos?Não.Os momentos nunca morrem.
Engraçado como nem o tempo nos consegue tirar certos momentos e por muito que os queiramos assassinar e remover da mente não conseguimos,somos fracos,somos reles mortais a quem nos é dada a dádiva de nossa alma restar viva,apesar de tudo o resto.O corpo é importante.Eu não concordo com Sócrates (nem sequer sei se realmente ele existiu),não concordo com Platão.Eu penso que o corpo é a janela da alma,com vidros riscados e sujos.O que os olhos vêm,a alma interpreta.E apesar de com isto querer dizer apenas uma palavrinha simples,que nunca ninguem vai saber qual é,arranjei uma desculpa esfarrapada de alma/corpo/momento para a dizer.Ainda que escondida por entre mágoas.
...Porque o corpo morre,a alma vai sabe-se lá para onde,mas os momentos,continuam no mesmo sitio,agarrados às mesmas pessoas,agarrados ao que sentimos por elas quando eles aconteceram.E eu...tenho muita pena de não conseguir dizer o que realmente queria neste texto,porque os momentos por momento,falaram bem mais alto que a mágoa.


*ao momento da noite,do dia de hoje,há exactamente um ano atrás.*

terça-feira, outubro 03, 2006

Distance

Ajuda-me a matar este tédio que me consome a alma...
Não posso, tambem ele me consome em trevas, meu amor.
Podes, juntos podemos fazer tudo, vencer tudo!
Tuas palavras abraçam-me em conforto, mas mesmo assim...
Mesmo assim podemos tentar, deixarmo-nos levar nessa luta.
E as feridas?Quem as cura?Entraremos em guerra assim que disseres "eu"...
Talvez o tempo cure tais feridas, e guerras, quem não as tem?
E paz?Queria eu tê-la na tua ausência e minh'alma não deixa!
Encontrá-la-emos sempre que juntos estivermos, nem que passem séculos para que isso aconteça!
A eternidade parece tão doce e fácil na tua boca, assim a espero nos teus braços.
Tal como eu a espero nos teus, amparando o meu frágil corpo.
Entraremos em guerra pois então, eu cá estarei para sarar tuas feridas.
E eu cada lágrima tua, sempre que ousarem correr em tua face.
Não deixes então que me esvaneça em medos, promete-me...
Não haverão medos, nem horrores que te ataquem enquanto dormes,
Pois olharei por ti, prometo.
...E eu cansada de guerras esperarei teu regresso,mais uma vez.Mais uma vez.

lcf e pinkas, olha-te ao espelho:) obrigado *

domingo, outubro 01, 2006

Roxo

A cor roxo tem muito que se lhe diga.Por vezes confunde-se com cinzento,violeta,lilás...Mas roxo é roxo.Ás vezes penso se serei a unica criatura do mundo a vê-la.Não me sentiria especial,sentiria-me injustiçada.Gostava que pudessem ver a beleza dessa cor unica,gostava que a pudessem ver comigo.O céu por vezes está laranja,cinzento,azul,e muitas outras cores estranhas para um céu,mas roxo?Será que já alguem conseguiu ver o céu roxo?Eu espero que sim,mas espero ainda mais que isso poder ensinar alguem a ver o roxo que vejo espandido no céu esplendido de uma madrugada alcoolizada e exausta.Espero...Esperanças.Talvez sem esperança não tivesse tanta piada olhar o infinito,de cerveja na mão,cigarro na outra,olho no céu,olho nele.
Penso em ensinar,penso em levar aos olhos dele o roxo que vejo no céu azul acinzentado de uma manhã de domingo.Cheira bem.Sabe bem.Respiro fundo e não doi,respiro fundo e doi.Mas é uma dor confundida com prazer,não sei bem o que faço ali,não sei bem o que faço no mundo,mas sei o que quero,e o que quero está mesmo ali ao lado...