Diário de uma Paixão

quarta-feira, outubro 31, 2012

O outro mundo

Os adultos não sonham nem vivem. Não existe meio termo.Cresce-se para se não sonhar, não se querer o impossível e o outro mundo, como se só houvesse este. Disparates. Eu conheci o outro mundo e sempre que lá vou penso em ficar, em não voltar, mas por algum motivo acordo. Que grande merda pensar que não se tem liberdade para escolher, para ir e voltar quando se quer. Ainda gostava de saber quem decide por mim, quem me agarra o braço e diz "não podes!". Bela merda. No outro mundo há restos deste, corrigidos, aperfeiçoados. Feiras, praias, casas.Não é um filme nem um reality show, é assim, assim tal como é. As praias cospem tsunamis como os carros poluição em Lisboa, as escadas ou são rolantes ou em caracol, as paredes são sempre brancas e há estações de comboio e aeroportos em toda a parte. É como andar na rua Augusta e poder apanhar um comboio para Tóquio de 15 em 15 minutos, e onde o horário é afixado correctamente, sem falhas.Não deixa de ser a rua Augusta, mas por vezes é possível que uma esquina qualquer cruze com Oeiras ou Cascais. Crescemos para nos chamarmos adultos e fingirmos que não existe mais que isto. Dormir 8 horas um dia, 4 horas noutro, e Sábado a tarde toda. Os Domingos são para forçar sorrisos, baptizados e casamentos, e a Segunda-feira para a Grande Depressão. E oh como é grande a Depressão de viver semanalmente e perder autocarros e metros, a metros de correr para eles. Está mesmo ali ao lado, e eu estou quase sempre quase a descobrir a porta por onde posso entrar. Deito-me, fecho os olhos, penso na praia, penso no quintal da minha avó e nos gatos todos que já morreram, e no outro mundo ainda estamos todos vivos, e tudo faz sentido.