Diário de uma Paixão

sexta-feira, novembro 30, 2007

A lei da atracção

É agora,e o quarto vazio parece-me tão meu.Ainda.
Amanhã tudo será melhor e pior,odeio ser pressionada,mas só funciono sob pressão.Vou-me embora.
Já fiz as despedidas possíveis,já esvaziei o que queria e apetece-me encher novamente.
Quero paz,silencio,risos e muito silencio.Auto-estima será uma nova expressão no meu vocabulário,no meu novo cérebro com vista para o Rio Tejo.
Não vou dizer nada,vou pegar na ultima mochila e sair.Deixar as chaves em cima da mesa,e lançar um ultimo olhar às paredes.
Aquilo que damos,é nos retribuído.Eu acredito nessa regra.Até pode falhar mas eu vou tentar.
Tenho esperança,vai correr tudo bem,e digo isto a mim mesma 500 vezes por segundo até entrar em curto circuito comigo mesma de tal forma que não escrevo nada com sentido.
Pensar positivo,atraír coisas boas,reciclar passados,renovar presentes,ansiar futuros diferentes.
Amo-te.Já acabou há algum tempo,eu é que não me apercebi.Obrigado por tudo.Amo-te mas não te quero.Acabou,finalmente.
Perto mas longe.

Vou saltar,e não espero que me agarrem.Sabe bem.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Postal silencioso

Parabens badalhoca.
Não posso falar contigo,ou pelo menos não podes responder-me,mas eu falo na mesma,sei lá porquê tenho a sensação que me ouves.
Já lá vão 2 anos...Sabes que é que sempre me custou mais nisto tudo?Nunca te ter dito o quanto gostava de ti,o quanto aprendi contigo.Deus,se existe,levou-te na melhor altura da tua vida,conforta-me saber que partiste feliz.
Lembro-me daquele Verão,em que te apaixonaste perdidamente e te magoaste.Lembro-me de desabafares e de desejares tanto desaparecer.Lembro-me dos sermões que te dei para que te sentisses melhor,para que abrisses os teus olhos castanhos cheios de luz,e te visses ao espelho.Eras linda,foda-se.Sempre quis ser como tu,mesmo na altura em que não nos davamos bem por ciumes parvos,que mais tarde me confessaste.Parecia-me tão ridiculo teres ciumes de uma rapariga como eu,sendo tu aquilo que eras.Não cheguei a conhecer ninguem que pudesse não gostar de ti.
Dou por mim às vezes a imitar-te,pintar o cabelo conforme o estado de espirito,ouvir a mesma musica,desejar desaparecer como se nada mais importasse...Se ao menos estivesses cá para me dares os sermões que eu te dava,sentia-me menos sozinha.
Se me vires,daí de onde estás,sabes que ando sempre com aqueles 2 pins que me deste.O nosso snoopy!Gostavas tanto do snoopy,de Tool,de Nine Inch Nails...Afinal eras a piggy,right?Nunca vais deixar de ser.
Dizem sempre que se deve agarrar o que há de positivo nas coisas más que acontecem,nas injustiças,durante estes ultimos anos não o consegui fazer.Hoje pensei nisso.É incrivel como foi preciso ires embora sem avisar,para que me conseguisse libertar de tantos medos,para que conseguisse dizer aos meus verdadeiros amigos o quanto gosto deles,com medo que de os perder antes que o possa fazer.Dizer "gosto de ti",não deve ser adiado,nunca.
Continuo com o nosso velho problema babe...Quero sempre algo que não posso ter (sim,como diz a musica),estive lá.No concerto,2 dos 3 dias.Tu deves ter lá andado no meio da multidão,com aquelas tuas túnicas pretas que eu adorava,e aquela pulseira linda,e o tereré em pele preta,e o cabelo pintado de cor-de-vinho...Eu senti.Tal como em Tool.
Gostava de te poder enviar um email,combinar um jantar,um copo no Clandestino,não posso.Não sei a tua morada agora,ninguem sabe.Acredito que basta pensar em ti com muita força,e tu estás lá.Ainda ontem estiveste comigo no Bairro Alto não foi?Considera isto como um postal.Sem morada em concreto,um postal que vai para alem dos correios,para alem das letras.
Mais uma vez,se Deus existe,qual foi o sentido de te levar?Fazer-nos aprender o quanto somos egoístas e orgulhosos?Que justiça existe nisso?Eu aprendi,sim,admito.No entanto não era necessário tanto.Aprendi a dizer o que sinto,mas tambem aprendi que a vida não é justa,que é pequena,fria e mesquinha,aprendi a revoltar-me mais um bocadinho a juntar aos outros todos.
Sofreste tanto...Quando finalmente estavas feliz,voaste.Como um anjo negro,a mandar beijos cá para baixo,com as bochechas vermelhas e o cabelo despenteadamente rebelde,como sempre.
Tenho saudades tuas.Tinha tanta coisa para te contar agora...
Um dia vou ter contigo,vamos ver os concertos juntas e cantar Tool,e passear por lisboa,e tudo aquilo que deviamos ter feito mais vezes.
Deus?Deus se existe esqueceu-se do meu aniversário,levou-te 2 dias antes.No dia em que te disse as ultimas palavras que ele me deixou:
"Então pronto às 20 na Brasileira,sinhe?"
"okay gorgeous(:"

Vamos a The Cure,piggy?Combinado.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Até já

Até já cantinho que me ouviste tantas vezes chorar.Digo-te até já,porque sei voltar sempre para te visitar,nem que não faça mais visitas.Até já,porque me vou embora.Não vou mais dormir no teu seio e cantar-te as minhas musicas inventadas à pressão,não vou mais pedir-te conselhos sobre o certo e o errado.Ensinaste-me o que podias,agora é hora de partir.
Até já,vou ali sentir a vida a sério e arriscar todos os riscos que o mundo me permitir,e já volto.Vou experimentar respirar sem os teus pulmões,usar os meus de uma vez por todas.Não te digo adeus,porque adeus soa a infinito,e eu sei que é apenas uma pausa,ainda que de duranção indeterminada.Se falasses,dirias que a isto se chama "crescer",largar o ninho e soltar as asas,valorizar a vida,por muito que ela não me tenha valorizado até agora.
Até já,quarto cor-de-rosa,que me viste definhar ao abrigo da violência e do egoísmo,cantinho lilás que me ensinaste a dar,mesmo quando não recebia em troca.Olho para ti esta noite,e sei que te vou reviver todos os dias até que me vá definitivamente.São cerca de 15 dias que tenho para aprender a dizer-te adeus,e mesmo assim sei que vai custar ainda mais que hoje,e que daqui a um mês.
Leio os poemas que tens tatuados nas tuas bochechas,e os quadrados brancos que seguras em tuas mãos.Faço um esforço para me despedir já,eu que odeio despedidas,mas não sou capaz.
Por isso,digo-te somente,até já,não me fizeste feliz,mas sei que vou ter saudades tuas enquanto estiver a lutar para o conseguir ser.
Já é hora de acordar.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Canção de embalar

Deito a cabeça na almofada,abraço os lençois cor-de-rosa em busca de conforto.Eles dizem que sim.
Junto o meu corpo ao colchão,é o meu chão,quando me perco em sonhos impossíveis.
Beijo o meu ursinho de peluche,que me acompanha quase desde que nasci,peço-lhe que me guarde o sono nas horas que se seguem.Peço-lhe que passe depressa...Ele não ouve.
Canto uma melodia que me embala e não sei de onde vem.Murmurios de algo que nunca ouvi.
Já não acredito em orações,mas digo a mim mesma que tenho um anjo a escutar-me os desabafos,e a minha gata.Digo-lhe que me sinto sozinha,que preciso de um abraço.Finjo responder-me "está bem",mas o abraço nunca chega,e o embalo nunca chega,o sono nunca vem,ninguem vem....
A melodia tem umas notas de piano que vão dançando enquanto eu desespero à procura dele,cobertas de caramelo.É pegajosa,agarra-se às minhas ideias,e as lágrimas vão caindo,sem que eu as possa segurar.
Ouço e calo.Fecho os olhos uma vez mais,despeço-me da luz,e aperto o botão do candeeiro.
Agarro com força a minha gata,mais do que ela gostaria,faço desenhos no tecto,de um mundo incapaz de existir,onde reina a paz,o lilás,e algo que só existe quando finalmente,quando a musica se cala,e o silencio tomou conta do meu corpo,algo que só existe porque toda a gente o deseja,e poucos conseguem...Amor.

sábado, novembro 10, 2007

Frígida

Tornaste-te na boneca de porcelana,pálida e apática,que sempre quiseste evitar ser.Tornaste-te numa Lídia.
Desejas tanto ser desejada,que não desejas nada,nem ninguem.Deixas-te levitar,da cama que enfeitas até ao espelho,só para teres a certeza que és feia,e pálida,e superficial.Voas até lá com o poder da mente que não possuis nas mãos gélidas que não tocam alma viva.Chamas à imagem tudo aquilo que gostavas na realidade que te chamassem,inventas expressões não espontâneas na esperança que se colem,e não tenhas mais que fingir.
Finges todos os dias ser o que não és,já foste.Sonhas todas as noites com o que queres sonhar,não tens sonhos.Evitas todos os dias aquele aperto,aquele abraço,aquele beijo,aquele toque,porque te enojas a ti mesma,com medo que enojes o que te rodeia.
Tornaste-te num elemento passivo da paisagem,um pássaro embalsemado,que não passou do secreto desejo de voar.
Torna-te em alguem,diz que sim.Não deve ser assim tão dificil sentir...Eu estou disposta a ajudar-te.Tu assim não resistes,e eu,eu vivo dentro de ti a empurrar-te para fora do poço.
Tu és terrível,porque és eu.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Bilhete de ida

Quando era pequenina,costumava sentar-me na beira do sofá,a altas horas da madrugada,a olhar as outras janelas.Contava cada janela como se fosse a ultima,ou como se as outras fossem fugir se não as contasse logo.Contava,contava,e contava...
À medida que ia ultrapassando as centenas,os meus olhos pesavam e ardiam.Começava a chorar involuntariamente.Pensava para comigo,se a luz das outras casas está acesa,é porque não sou a unica acordada.E isso fazia-me sentir mais segura que um abraço.
Deixava apenas a televisão acesa para me dar luz suficiente,encostava a cabeça na mão que forçava o cotovelo no parapeito da janela,e ficava ali,a brincar ao silêncio comigo mesma.
Ainda hoje o faço,embora mais elaborado,talvez até bizarro.Conto as janelas,apenas aquelas que estão iluminadas,e imagino o que se passará lá dentro.Imagino se haverá alguma menina cujo olhar passa pelo meu prédio,em busca de algum mimo.Anseio que alguma me faça um sinal qualquer,como uma conversa em código morse,no entanto,até agora sempre esperei sentada.
Todas as madrugadas,ficava a cantar melodias criadas por mim,que no dia seguinte viria a esquecer,e contar janelas.Janelas,árvores,carros que passavam,gatos...Gostava de ter contado estrelas no lugar da tralha insignificante que rodeava a minha casa.
Esta noite sentei-me na janela do meu quarto,e não olhei as janelas,prendi o meu olhar ao céu.Talvez para me convencer que em qualquer parte do mundo é o mesmo,por muito que esteja longe.É a unica coisa,que irónicamente me traz segurança hoje.
Era tão pequenina que sentada no sofá os meus pés não chegavam ao chão,e dizia para mim mesma:
"Um dia hei de ter saudades disto","um dia hei de ter saudades disto"...
Vezes e vezes sem conta.

domingo, novembro 04, 2007

Tu dizias

Tu dizias-me aquilo que eu quero ouvir,e eu fazia aquilo que não tens coragem de sentir.
Podias levar o teu olhar às mãos que brincavam uma com a outra,mas violar os teus lábios de forma a que dissessem as palavras certas.
Tinhas a possibilidade de me fazer ceder aos medos,e arriscar num mais que provavel erro de carencias,podias tanto com tão pouco...
Faziamos como sugeri.Dizias-me "quero-te",e eu dava-te o que querias.
Tiveste o teu momento,e desperdiçaste-o com meias palavras que apenas me irritaram mais.
Podias ter sido o meu brinquedo temporário,eu dava-te tempo para te cansares,mas não agiste.
Agora que já vi que não consegues,agora que já percebi que não me apetecia só brincar,não te toco mais.Nem na minha cabeça.
Na verdade,não dizias nada.E as palavras que queria ter dito,nunca abandonaram o meu pensamento,nem tão pouco tocaram a minha garganta.

Tu dizias-me "gosto de ti",e eu tinha procurado gostar-te.

Perigosamente sóbria

O melhor elogio que já me fizeram dizia o seguinte: "o teu sorriso é contagiante."
Fiquei a sentir uma sensação que me deixou passados poucos segundos,sentir-me util.Senti que devia sorrir mais vezes só para que os outros pudessem tambem sorrir.Não consigo perceber como é que isso me faria melhor pessoa,mas a verdade é que um elogio tão pequenino me fez sentir a pessoa mais importante.
O alcool embora já não resulte como outrora,faz-me sentir a pessoa mais insignificante do mundo,ou talvez não só o alcool.Descobri com ele que existem atitudes,que quando nos sentimos mais frágeis,nos fazem mal,nos magoam,e nos ensinam cada vez mais que a perfeição não existe.Porem,existe uma sensação de esperança que me faz sentir vontade de não desistir,aguentar e fazer bem a alguem,já que não o consigo fazer a mim mesma.
Forcei a bebedeira e a névoa,recebi elogios sem palavras,por que raio continuo a sentir-me frágil?
Estou chateada e ao mesmo tempo triste,arrependida e ao mesmo tempo feliz.Talvez a palavra indicada seria "confusa",mas a minha cabeça e os meus olhos afogados em mágoas e névoas dizem-me que nem uma coisa nem outra está certa,porque apenas não estou onde devia estar.Ou pelo menos não estou onde me podia sentir completamente bem neste momento de maior fraqueza.
Gostava de ter ido pelo outro caminho...E apesar de não conseguir manter os olhos no mesmo objecto mais que 1 segundo,e apesar de querer tudo e mais alguma coisa ao mesmo tempo e saber que todas elas vão dar ao mesmo poço sem fundo,sinto-me perigosamente sóbria.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Luz

A todas as coisas que não conseguimos ver,porque não são palpaveis,atribuímos imagens.
As memórias que temos e que nos perseguem coladas na parte detrás do olhar,são um exemplo.Conseguimos vê-las e por vezes até mesmo tocar-lhes,mas não passa da nossa imaginação mais desejosa.
Sempre imaginei as memórias douradas.Talvez porque detesto ouro,porque amo prata e prata soa-me a algo jovem,novo,associado ao presente.As lembranças,são douradas e algo desfocadas como um filme antigo.O meu ódio pelo dourado fez-me parar.Parar de criar memórias.Se paramos de cria-las,paramos o processo de cicatrização.Como podemos sarar se não nos cobrimos com pele nova?
As estrelas separadas pelo céu roxo,deixam um reflexo doce nas àrvores cá em baixo.Aquela luz dourada que parece nunca ir embora,que parece acompanhar-me para sempre,não apenas pelos momentos em que estou debaixo dela a pensar se será possível guarda-la para mais tarde.
Só nos decidimos a sarar,quando existem memórias que valem a pena,quando são compativeis com a nossa pele,e sabemos que lá vão ficar por bastante tempo...Nessa altura,se pensarmos com muita força,como os miudos que pedem desejos aos arco-iris,a luz entra.Tapa mais um bocadinho de uma memória qualquer fora de validade,e produz automaticamente uma nova.Sim,como uma limpeza.
Sempre imaginei dourado pelo meio dos meus pensamentos,hoje estão um prateado reluzente viciante,como uma faca que não corta.
Só a luz...E a transparencia.