Pensamento sintomático

Desligo o telefone.Digo a mim mesma que é a ultima vez que me deixo humilhar,que me deixo ir ao chão e chorar até não ter olhos e a minha cabeça parecer um caixa de ar comprimido e dinamite prestes a explodir.Eu sei que não é a ultima vez,não sei quando será e também não sei quando vai desaparecer esta culpa,se é que o vai.
É um peso demasiado grande esta herança...
Repito mil vezes sem que me ouçam "eu não mereço eu não mereço eu não mereço".Grito,fecho os olhos tento respirar,grito outra vez.
É uma dor inexplicável tentar o que é impossível ser.Indolor,insensível,abstrair-me de tudo.Fingir que não há gritos,que daqui a 10 anos continuo a sentir as mãos,os pés,que continuo viva e com esperança.Não posso garantir-me a mim mesma.Sou uma pessoa sem garantias.
A ignorância deve ser mais leve.Saber o que o futuro me reserva é pesado...Pesado demais para chegar a esse mesmo futuro,com forças para o suportar.
Hoje comi alface e cenoura,iogurtes e caminhei por caminhar.Deixei a nicotina.Era tão bom que isto bastasse para ser saudável!
Hoje deram-me uma experiência de sintomas,fizeram-me sentir sem sentir e pensar até cair.Hoje culpei-me.Amanhã não sei...
Porque é que futuro é sempre incerto e para mim tinha de ser diferente?
Hoje deixei-me ir abaixo.
Nunca hei-de ser mãe.

Maldita cafeína...

--"Nós somos capazes de tudo!" - Diz ele com os olhos abertos e um sorriso fascinado.
--"Pois somos..." - Ela responde como se nunca tivesse pensado nisso.


Há pouco saí do trabalho.O call center mais esquisito que deve existir no país a nível de recursos humanos.Somos um pior que outro,todos estranhos e interessantes à sua maneira,problemáticos até dizer chega.
Segui a rua até à esquina que vai dar ao prédio onde moro e acompanhada por um colega fomos falando.
Contou-me histórias dos seus anos de faculdade,de esperanças de sonhos,de filosofia,de como é importante para ele falar sobre arte e não de futilidades,de como as pessoas odeiam que lhes peçam que se apressem,etc...Paramos em frente da porta,eu de chave na mão a pensar nas horas que ainda me faltavam pela frente sozinha e ele de mala e passe de metro na mão. e no meio de várias conversas entrelaçadas e diferentes pontos de vista confrontados ele disse algo que vai ficar na minha cabeça durante muito tempo,e começou assim:
"Estás a ver aqueles dias em que te sentes tão depressivo que ficas deitado na cama sozinho a olhar para o tecto,e que até já vês moscas e pensas que estás tão perto de ser merda?Eu nesses dias penso naquele gajo que tem uma deficiência que lhe deixa apenas mexer os olhos e escreve mais livros que o Saramago.Se ele faz isso e não pode mexer um dedo,eu não tenho o direito de ficar aqui deitado sem aproveitar todos os milímetros dos meus membros.Acabo assim por me levantar da cama,percebes?"

Como eu o percebo...
Pode não ter sido tão romanceado o discurso,eu tenho dedos e consigo mexe-los tão bem que me apeteceu dar enfase à história e acrescentar algumas palavras floridas,mas o sentido foi exactamente este.Sem tirar,nem por.
Quando acabou a história da depressão desvia o olhar com um sorriso ainda mais espantado de sobrancelha levantada e diz:
"Bem,hoje o café fez efeito."
E foi embora.
Eu sorri,meti a chave à porta e subi a correr para conseguir escrever o episódio.
Quem diz que a vida não é cinema é porque mente.

Perguntas caras

Não há nenhum manual para a honestidade.
Em lugar algum podemos aprender a não magoar com ela,ou não sair feridos.
Quem procura aquilo que não quer ver,arrisca surpreender-se...
Quando se perde a honestidade,haverá alternativas a não ser simplesmente,sarar?
Quando nos sentimos culpados e por culpa nossa,magoados,estaremos no direito de responsabilizar alguém?
Os manuais deviam ter destas informações preciosas.
Depois vem o aperto na garganta,aquele que se sente quando se engole o choro.Estou a fazer-me entender?
A dor do estômago de mágoa e raiva ao mesmo tempo...Por amor se perde a credibilidade e orgulho.Toda a auto-estima e todo o resto de coisas fúteis que criamos religiosamente na esperança de gostarmos mais de nós mesmos.Tretas!As coisas mais pequenas são as mais mortíferas,e isto eu já sabia...Eu já sabia tanta coisa.
...E tudo parece um jogo de quem doi mais.
Faz lembrar o "Quem quer ser milionário"!
Quem é?
a) A verdade.
b) A mentira.
c) O segredo.

1 milhão para esta.

Desumano é mentir

Mentir não está na natureza do ser humano,é por isso que vendo o mundo de uma perspectiva positiva,ninguém mente,mas acredita em excesso.
Acreditar ou mentir,qual das duas mais desumana?Hoje em dia talvez a segunda.O Homem esquece-se de acreditar,esquece-se que somos todos carne e sangue da mesma espécie,mas lembra-se sempre de desconfiar.Seremos nós de confiança?
Eu vi um senhor a roubar no mini-preço e não disse nada.Vi o senhor ser apanhado pela policia e não dizer nada.Vi o policia espancar o senhor e fazer-se silêncio na loja.
Calar também é mentir...
Ouvimos todos na loja o senhor gemer e o mão do policia estalar na sua cabeça.
Vi de soslaio que o senhor já tinha uma certa idade e roubava cerveja por dentro do casaco.
Toda a gente disse que o porquê era ele ser preto,toda a gente mais nada disse.Eu paguei e fui embora,o resto olhou para trás na esperança de ver sair o senhor com algum hematoma ou algo do género.
O policia?Esse ninguém perguntou por ele,mas aposto que continua branco e sereno.
Os mentirosos não roubam,batem.Os mentirosos não se queixam,aguentam.Os mentirosos não defendem,calam.
Será o silêncio uma mentira ou vice versa,a mentira um silêncio horrível?

Auto-estradas

Já passou quase um ano desde que passei a ser comprometida.Sim,ser parte de um casal,como as pessoas gostam de chamar,mas continuando,não gosto dessa expressão.Gosto de ver as coisas como um mapa de 2 estradas paralelas.Eu sou uma delas,não sei lá em que parte sou paralela ou equilibrada,mas a verdade é que se calhar a outra parte acompanha os meus desequilíbrios e eu as dela.Faz quase um ano que vejo a rotina de forma diferente,e faz quase um ano desde que aprendi que estar acompanhado é muito melhor que ter espaço.Aliás,esqueçam lá o espaço...Já não sei estar sozinha.
Aprendi que se pode gostar de alguém ao ponto de gostar do seu cheiro a suor e dos seus movimentos irritantes durante a noite que não nos deixam dormir.Se tivesse de dormir sem eles era uma pessoa infeliz.
Reparo todos os dias em mais um pontinho de impressão que esse alguem me deixa quando vai trabalhar,um pontinho de necessidade.De "quero mais".
A maior parte das vezes quero dizer-lhe "não vás trabalhar...fica em casa,só hoje!" mas o "só hoje" ia repetir-se todos os dias sem dar conta.
É uma angustia constante amar alguém,já alguém pensou nisto?Uma angustia de medo dos acidentes de carro e das tempestades de areia que andam aí por Lisboa (sei lá!).
Faz quase um ano e passou tão rápido,e parece desde sempre.
É incrivel como posso não gostar do seu perfume e adorar o aroma natural daquele corpo.
Começas a largar vicios maus,a ganhar vicios bons,a planear o futuro,a ter vontade de envelhecer,de arrumar a casa,de lavar roupa,de fazer horas extras...
Tudo na vida ganha uma razão para ser,quando há amor.Tudo se conjuga à volta para 2 estradas seguirem paralelas durante uma vida inteira,é preciso é ter cuidado com as curvas.

O meu segredo novo é:

Deixei de fumar por ti.

Eu?Onde?

Deixei de fumar,vou ver um filme.Esta é a pior coisa que se pode fazer a um ser humano.Eu não quero deixar de fumar...
Deixei de respirar como antes,vou chorar.Isto é o pior que me podia acontecer.
Não me sinto confortavel para escrever,não tenho força para desabafar,o mundo que ainda me dava gozo está a morrer aos poucos debaixo dos meus olhos.
Não tenho futuro.
Quero uma vida,quero um cigarro,quero respirar.Ainda dizem que deus existe?!Fodam-se todos os que ainda acreditam nisso.
Eu já só acredito no fim desta merda toda,porque para continuar,tenho de matar toda a pequena coisinha que há na minha rotina que ainda me dá algum gozo.

Quero tanto o que tinha...
Queria tanto um cigarro foda-se.

Dia da Mulher

Hoje é dia da mulher.Eu sou mulher é suspeito falar sobre o assunto,mas a verdade é que por muitos defeitos que tenhamos,os homens adoram-nos,e todos os dias contribuímos com as nossas explosões de hormonas para o mundo.
Loiras,morenas,gordas,magras,excêntricas ou simplistas,somos uma força difícil de derrubar.
Hoje é dia 8 de Março do ano 2009,sinto-me mais mulher que nunca com os meus recem chegados 22 anos.Sou independente,pago renda,conta de água,luz,já pintei paredes e carreguei móveis,já fui fria,quente,preguiçosa e descrente,mas já fui muita coisa.Sinto-me preenchida em todas as formas que uma mulher "como deve ser" se deve sentir.
Tenho sonhos,tenho medos,tenho coragem.Tenho cadernos e guiões na minha cabeça que ainda não escrevi,quero viver,muito.Mesmo que isso signifique ter período 5 dias por mês,e ser menosprezada em certas situações sociais pelo meu sexo,como infelizmente ainda existem,apesar de fazerem mais sentido no século passado.
Parabéns a mim e ao resto das mulheres por sermos quem somos,fizemos por isso e a guerra ainda não acabou.
Estou de pé,estou aqui e vim para ganhar.Há quem diga que a vida é um jogo,e eu como jogadora assídua venho apostar na vitória feminina.
Descobri que tenho uma doença e não vou desistir do meu mundo por isso,sou mais forte que isso,sou mulher,ela que venha!Eu tenho armas suficientes para lutar.

Orgulho em ser mulher.

Positiva

A vida é como um relógio em contra-mão.
Qual foi a primeira coisa em que pensei?Dar a noticia à minha mãe e ao meu namorado.
Segunda coisa foi a vontade de sair do hospital.
As seguintes não surgiram,parei ali.
Bem,eram 50% de hispoteses de sair negativa e 50% de hipoteses de vir positiva.Digamos que estou no lado escuro da lua.
A vida é um jogo lixado e sarcástico...
O que é pior?A certeza ou a dúvida venha o diabo e escolha.
E agora?Não sei...
Não sei...

O inter-rail

Quando deixei o liceu,saí a dizer de boca cheia:
-- Para o ano vou fazer um inter-rail,nunca mais ninguem me vai ver.

Bom,a segunda parte é verdade.Nunca mais voltei a ver os meus colegas de liceu,professores muito menos,e a parte do inter-rail,facilmente tirei da cabeça.
A verdade é que desde que deixei de estudar nunca mais saí de Portugal,aliás,nunca mais deixei Lisboa,para ser mais correcta.
Naquela altura tornou-se mais importante deixar Cascais,sabe-se lá porquê deixei e hoje lembrei-me da história do inter-rail.Se consegui com tanta força sair da terrinha,secalhar se me tivesse empenhado o suficiente tinha feito as viagens pela Europa que planeara,mas e hoje?Estaria ainda por lá ou estaria exactamente no mesmo sitio?
Se há coisa que não apagava nem que nem dessem essa oportunidade milagrosa para muitos,era a escolha que fiz em não ir de inter-rail em 2006.

Ainda não decidi qual vai ser o meu inter-rail de 2009,mas se for como os outros vai valer a pena.