Diário de uma Paixão

quarta-feira, março 25, 2009

Maldita cafeína...

--"Nós somos capazes de tudo!" - Diz ele com os olhos abertos e um sorriso fascinado.
--"Pois somos..." - Ela responde como se nunca tivesse pensado nisso.


Há pouco saí do trabalho.O call center mais esquisito que deve existir no país a nível de recursos humanos.Somos um pior que outro,todos estranhos e interessantes à sua maneira,problemáticos até dizer chega.
Segui a rua até à esquina que vai dar ao prédio onde moro e acompanhada por um colega fomos falando.
Contou-me histórias dos seus anos de faculdade,de esperanças de sonhos,de filosofia,de como é importante para ele falar sobre arte e não de futilidades,de como as pessoas odeiam que lhes peçam que se apressem,etc...Paramos em frente da porta,eu de chave na mão a pensar nas horas que ainda me faltavam pela frente sozinha e ele de mala e passe de metro na mão. e no meio de várias conversas entrelaçadas e diferentes pontos de vista confrontados ele disse algo que vai ficar na minha cabeça durante muito tempo,e começou assim:
"Estás a ver aqueles dias em que te sentes tão depressivo que ficas deitado na cama sozinho a olhar para o tecto,e que até já vês moscas e pensas que estás tão perto de ser merda?Eu nesses dias penso naquele gajo que tem uma deficiência que lhe deixa apenas mexer os olhos e escreve mais livros que o Saramago.Se ele faz isso e não pode mexer um dedo,eu não tenho o direito de ficar aqui deitado sem aproveitar todos os milímetros dos meus membros.Acabo assim por me levantar da cama,percebes?"

Como eu o percebo...
Pode não ter sido tão romanceado o discurso,eu tenho dedos e consigo mexe-los tão bem que me apeteceu dar enfase à história e acrescentar algumas palavras floridas,mas o sentido foi exactamente este.Sem tirar,nem por.
Quando acabou a história da depressão desvia o olhar com um sorriso ainda mais espantado de sobrancelha levantada e diz:
"Bem,hoje o café fez efeito."
E foi embora.
Eu sorri,meti a chave à porta e subi a correr para conseguir escrever o episódio.
Quem diz que a vida não é cinema é porque mente.

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