Diário de uma Paixão

segunda-feira, julho 31, 2006

Dia 2 - O Nada

Querida Joana,

Nada.O vazio do cansaço e do descanso numa folga sem sentido,que me vai fazer trabalhar muitos dias seguidos sem respirar.Não "aproveitei" porque estava tão cansada que me doía o corpo,fiquei na cama até tarde,fui alugar uns filmes,fumei uns cigarros e aguentei-me o dia inteiro assim.Disse ao nosso carocho que não me apetecia sair,na verdade não conseguia.A minha mãe tem andado pior,há dois dias que não pára de vomitar,não consegue comer nem tomar comprimidos para as dores,e eu não a consigo deixar aqui e ir sair como se nada fosse.Nunca consegui.
Aquele barulho há de ficar para sempre na minha cabeça,desde os 11 anos que o ouço,é muito tempo.Percebes agora a minha aversão ao "tempo"?Levo a vida a escrever sobre ele,talvez porque me custa que ele passe tão depressa...E eu nada faço para que ele pare,secalhar nada posso fazer,nem que quisesse.
Nunca consigo desabafar,aquela coisa que dizem que faz tão bem e alivia tantas dores.Nunca consegui.Sentia-me invadida,quando tudo pensava que eu era tão cor-de-rosa,para quê estragar e pintar-me de preto?Ou simplesmente lavar a tinta rosa suja que me cobria...
Espero que estejas bem,penso agora se estarás a gostar,se chegaste bem,se já viste algum rapazinho giro por aí.Dizem que os italianos são lindos,vamos ver se achaste o mesmo.
O nada...Estou vazia como uma garrafa de vinho que chegou ao fim,escura,pouco transparente,suja.

Dia 2.

domingo, julho 30, 2006

Dia 1 - A realidade


Querida Joana,

Onde estás?Não preciso particularmente de ti,mas é estranho saber que se precisar não estás.É estranho pensar que se precisares vou estar longe demais para ajudar,e o meu ombro não chega onde estás...Mas eu chego!Estarei sempre contigo no pensamento,estarei aqui em palavras a descrever os meus dias,porque sei que quando chegares vais ler.Não fui capaz de carregar no "ok" do telemovel,não me despedi,não te desejei "boa sorte",talvez por me custar admitir que me vai custar este tempo que vais estar fora.Tu sabes como eu sou,decerto compreendes,se pensar que não compreendes ainda me vai custar mais,e o proprio "custar" acho que é suficiente para que compreendas.É como uma parte de mim que falta.Queria combinar agora o próximo concerto,a próxima noitada de alcool e desvario,queria dizer-te que tenho saudades da "outra" Joana...Mas não!Não vou pensar nisso sequer,a "outra" Joana já não vem,tu vens,vais voltar em breve,eu tambem já estive um mês fora e...Ok custa muito a passar.Caí na realidade que já conhecia,doi quando nos afastamos de alguem de quem gostamos,doi quando estão longe mesmo sabendo que se estivessem perto não iriamos estar próximos,doi saber que é tarde para nos despedirmos,doi saber que a vida é isto.É realidade.

Dia 1.

sexta-feira, julho 28, 2006

Passa cá ontem

Que hoje já não dá.
Fizeste-me rever as horas e os minutos como os segundos desafogados daquele dia.Apercebi-me friamente de quem eras,eras a minha rigorosa medicação,sem a qual não consigo passar.Prometo não escrever mais sobre ti,prometo não te trazer mais a este mundo doloroso das palavras de pulsos rasgados,prometo que nunca vais mudar e eu...vou fazer um esforço por isso.Um dia vai passar,hoje já não dá.
Por isso amor,passa cá ontem,dá-me o beijo que necessitava quando estavas ausente a meu lado,dá-me o abraço que tanto te pedi sem usar palavras.Passa cá ontem,não os sentirei mas pelo menos sei que lá estiveste.Sentirei o teu cheiro e a marca das tuas mãos quando tocar o vento naquele lugar,e tu estarás longe,porque eu prometi e cumpro,vou afastar-me de ti.Jamais voltarei a esperar por noites,jamais esperarei por doces que não me sabem a açucar.Não me verás mais,e eu não te sentirei mais no ontem do hoje de amanhã.

Passa cá ontem,meu amor.Hoje já não dá.

E a vida continua

Esboço mais um sorriso,vomito mais umas palavras num acto de desespero,nada que seja novidade para ti.Fechas os olhos,não!Finges que fechas mas como eu fazia em pequena quando os meus pais discutiam,deixas uma linha aberta por entre as palpebras de forma a que eles não vejam,mas tu vês.Porém para mim e para os outros,continuam fechados.Ou então é apenas para mim,na minha voadora cabeça que tudo se passa.E não vomito,apenas serenamente falo entre murmurios que não,não é apenas rosa,é vermelho.Não,não é apenas cintura para cima,é abaixo das ancas tambem.Queres que esconda?Preferes que engula o vómito ou que como aplicada bulimica te vomite tudo o que sinto?Tanto ponto de interrogação a sufocar-me.Tenho vontade de te dizer "eu gosto de ti...para alem do rosa."Mas aí irias ver-me como uma ameaça,aí irias ver-me como um aguçado punhal,para que quero eu isso se me vês assim como um peixinho cor-de-rosa que se tem em casa num aquário,a quem se dá mimo e atenção,e com quem nos preocupamos mesmo sabendo que irá morrer em breve?
E assim continuo no meu aquário sujo de pensamentos perversos,assim me escondo nas minhas algas artificiais na esperança que um dia me procures.Assim continuo submissa todos os dias à espera da noite quando chegas para me dar mimo,para me dar a atenção que mais ninguem dá.
Assim escondo o vermelho sangrento e agressivo com que dou cor à minha adoração,e mostro o cor-de-rosa como uma camisola nova que se quer usar para sempre no primeiro dia.Como tu não vês,quem sou eu para mostrar?Eu?Eu não sou ninguem.Eu sou o teu peixinho de aquário.E a vida continua...

sexta-feira, julho 21, 2006

Luz não venhas...

Luz não venhas...Estou apaixonada pela escuridão.O meu buraco silencioso e negro esforçou-se mais que tu,seduziu-me ao ponto de me tornar sua escrava,viciada nos seus bafos de esperança infundados.Fundo.Nunca estive tão fundo.Quase consigo ver o fogo e a lava que se escondem debaixo da terra,abaixo de tudo aquilo que algum ser humano consegue alcançar,até na morte.Não vejo nada.Sobrevivo à base de ilusões cor-de-rosa que ainda restam neste coração despedaçado por ninguem.Ninguem me magoou.Sou eu que me magoo a mim propria,são os meus olhos as facas que me cortam a cada vez que olho o espelho do meu quarto.São as minhas mãos,a corda que me enforca a cada vez que me toco.São os meus pés,os comprimidos que me intoxicam o estomago a cada passo que dão.As escolhas que até hoje fiz estavam erradas,os caminhos por onde caminhei eram em vão becos sem saída.Os lábios em que toquei com os meus eram ainda mais frios e pálidos que as minhas sufocantes mãos.As paisagens em que meus olhos se fixaram eram ainda mais falsas que o céu azul que me cobria e iluminava.
A noite era aquela que me amava de verdade,sem falsidade ou frieza.A noite foi aquela pela qual suportei tantos dias.Estou apaixonada,e a minha amante é a negra e segura escuridão.Luz não venhas...Queimas-me com as tuas mentiras.

segunda-feira, julho 10, 2006

Infinito

domingo, julho 09, 2006

Noites e Luas

Foi diferente.Ontem a noite foi diferente do habitual esquema de coisas a fazer naquelas horas de escuridão.Apesar da mesma rotina: casa,café,bar,escadas do bar,alcool,nicotina,brincadeiras e casa,aquela que supostamente seria uma noite como outras,distinguiu-se.Como costumo dizer e costumam dizer de mim,sou de luas.Ontem acordei mal humorada,coisas da vida talvez,talvez não,e saí de casa num acto de revolta de quem vai afogar mágoas no alcool.Porém,foi mais que isso.Uma noite que deveria ter sido igual a tantas outras de quem não tem horários,namorado,ou algo que prenda a rotina,foi uma das noites mais especiais do género.Não houve sexo,não houve alcool em excesso,não houve beijos encarnecidos de desejo adolescente,não houve grandes loucuras,mas houve amizade.
Depois de algumas horas no bar do costume,depois de algumas conversas a recordar os tempos de liceu que os 3 passámos,os 3 longe uns dos outros,seja em km ou em espirito,ali estavamos reunidos numa mesa de 4 pessoas a comentar quem passava,a comentar o que nos vinha à cabeça,acompanhados por jarros coloridos de sangria.Quando pensavamos que a noite acabava por ali,um outro amigo de um amigo deu a ideia de irmos ao Guincho,um dos sitios mais bonitos da zona,um dos sitios de que eu mais gosto e onde tenho as memórias mais especiais da minha vida.Lá fomos,por entre Luas e mar e caminhos desertos,acompanhados por um belo silencio saudavel.A praia não estava deserta,estava escura e perigosa,mas muito bonita...e reparem no pormenor "bonita",podia ter dito "linda",mas "bonita" soa a algo mais inocente,como os olhos de uma criança quando sorri.Aquela praia guardava memórias por entre cada grão de areia,aquela Lua embora cheia,dava-nos a sensação que o vazio se tinha tornado na palavra de ordem.Não sentia nada...Podia chorar e sorrir ao mesmo tempo que nada fazia sentido.Estava com aqueles que me faziam feliz e pelos quais ainda faço falta neste mundo,estava bem.Aquela escuridão transmitia-me algo que nem eu consigo explicar,aquela foi A noite.E porque eu sou de Luas hoje acordei como se o mundo tivesse desabado,como se fosse a pessoa mais infeliz do mundo,como se nada daquilo se tivesse passado,horas e horas depois,tinha eu vivido os mais terríveis pesadelos,os maiores delirios depressivos,mas sei que a noite valeu a pena,pelo menos durante aquelas horas eu fui eu.Sem momentos como aquele,eu,seria apenas alguem obrigado a respirar pelo organismo,e obrigado a viver pelo seu ódio de estimação ao suicidio.
Noites e Luas,caminhos e mar,estrelas e saudades.As coisas boas da vida andam sempre aos pares,e os seus companheiros são as coisas más.

* Tool - 46 & 2 *