Diário de uma Paixão

quinta-feira, novembro 25, 2004

Lágrimas no tempo

Perdi-as.Procuro incessantemente motivos para que elas venham.Procuro-as porque as perdi.Puras,belas,transparentes,são a perdição de meus olhos,as pétalas da rosa que já partiu,a beleza da flôr que outrora teve espinhos.Perdi-as.
Partiram.Foram para longe as lágrimas que aliviaram a minha dor.Fugiram daquela que as usava apenas para se aliviar,voaram para o rosto de alguem que as merecia mais,evaporaram-se no tempo que um dia foi eterno,e que hoje se vai apagando.
O Presente não é agora mais que uma breve passagem do Passado para o Futuro,o Passado, já partiu,quem sabe tenha sido só sonho,talvez nem sequer tenha existido.O Futuro não nos pertence,faz de mim mais uma alma errante,à espera,brincando com a ansiedade que me possui.
Pois se assim é,o que é o tempo?Existirá realmente?
Talvez estejamos fora do tempo,talvez seja só eu.
Não me pertencem.Não me pertencem as lágrimas que chorei todo este "tempo",pois se o tempo é uma mentira,quem me garante que existiram mesmo?
Faço força para que elas voltem,quero que elas caiam,temo falhar e jamais chorar.Não tenho medo de morrer,mas sim de me esqueceres sem nunca teres tocado,as lágrimas que por ti chorei.

quinta-feira, novembro 18, 2004

Anjo meu,não me pertences.

Vejo-te assim sofredor, oh melancolia!
Malvada, por ti meu anjo sofria,
Enjaulado numa força omnipresente.
E eu a ti escrevo e faço frente.

Só, escarlate,de olhar brilhante,
Rodeado por um mundo que não é seu,
Sorri com graça e valor de diamante,
Um puro anjo, cujo sorriso não é meu.

Passando as receosas mãos pelos cadernos,
Assim lá fixa o doce olhar distante.
Escondendo em sonhos, seus infernos,
Desconhecendo o quanto é importante.

Acaricia a face em tom desconfortável...
E sorri mais uma vez em tom amável.
Suspirando risos forçados, ele queria
Ser alguem que não será jamais,um dia.

E assim engole o choro e o sentimento,
Emabranhado em nuvens de incerteza,
Dando cor e luz ao firmamento.
Inseguro, sopra gestos de firmeza.

Esboçando sorrisos invoca ternura aos prantos,
Esconde-se da aula em mantos,
E afoga em doçura olhares de simpatia
Uma pobre,que na aula o texto lia.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Magia

Não temi. Aproximaste-te de mim e eu sabia o que ias fazer. Como que em camara lenta,deste-me a mão, suspiraste um sincero e puro sorriso, conquistaste-me. Não soube o que fazer, sentia a tua mão lentamente a apertar a minha, a tua respiração ansiosa transmitia-me segurança, o silencio pairava no ar,era quase palpável.
O teu olhar doce e meigo fazia-me querer-te cada vez mais, tambem eu respirava ansiosa no meio daquele silencio, que se ouvia tão bem, e tu, seduzias-me com sorrisos e suspiros, fixando-me intensamente, como se mais nada existisse no mundo. O tempo ali parou, nada mais existia, o vento continuava a soprar, e os seus toques quentes e carinhosos abraçavam-nos no meio de uma multidão imaginária,que para nós, era tão insignificante.
Por momentos, a multidão que se silenciou, observava aos poucos os nossos olhares profundos, fixados um no outro, num espaço de segundos, fomos um só...
A noite vinha então cobrir-nos. Passou-nos ao lado. O teu olhar, dizia-me agora algo que não podia negar, sabia que ambos sentiamos o mesmo, as palavras eram desprezadas, os teus lábios uniram-se aos meus...o beijo foi inevitável.
A magia transmitida pelos dois era deveras especial, o feitiço estava cumprido, e eu...ali permanecia no calor daquele beijo profundo, completamente possuída, nada podia fazer. A escuridão em volta emanava eternidade, o infinito parecia agora pequeno demais, aquele momento devia durar para todo o sempre, era demasiado precioso para ter fim. A dor, estava agora ligada à magia, doía-me saber que ambos iriamos regressar à realidade, o medo apoderou-se do momento...Pensei em morrer, dormir para sempre, na esperança de assim alcançar a eternidade, contigo.
De repente, a escuridão desapareceu, a luz de uma manhã dolorosamente real penetrou nos meus olhos, estava só, confusa...em mim. Porém, a magia permanecia.Tinha sido tudo sonho...ou talvez não...Foi magia.

domingo, novembro 07, 2004

Morning star_II

II

Estava apaixonada.Não havia nada que pudesse fazer,a não ser tentar.Tinha conhecido à pouco tempo um rapaz que lhe dizia algo,que a cativava...talvez o rapaz da praia lhe tivesse feito lembrar esse outro,que ela tanto adora.Teve o azar de se encantar logo por alguém como ela,cheio de medos e receios...mais inconstante ainda que ela.Disse-lhe as coisas que mais lhe significaram na vida,no entanto permanecia a distância,real e virtual,que o mundo friamente lhes reservava.
Afasta os cortinados.A claridade proveniente da lua e das estrelas enche-lhe o quarto,alimentando a solidão,do lado da janela,senta-se no puf e revê fotos desse ano,das experiencias que passou,das viagens,das pessoas,e continua vazia...
Pensa para si mesma que assim será para sempre,acompanhada apenas por imagens surreais,as pessoas,essas,estarão sempre longe demais,mesmo vivendo a seu lado,jamais alguem conseguirá alcançar o seu mundo...demasiado longinquo.
Aproxima-se do computador,o longo compasso de espera de ligação,põe-na nervosa.Na cabeça voam em turbilhão emoções às voltas,e ele...ele que ela espera desesperadamente online.E lá está ele,quem sabe,esperando por ela,quem sabe tambem ele enclausurado no seu mundo,e os dois juntos à espera de se salvarem.
Neste momento odeia-o,odeia-o porque está mal,odeia-o porque mesmo com um nickname depressivo,chamando à atenção,ele não lhe fala.
Ela, sofre então mais uma vez, e uma lágrima prepara-se para cair,quando ele lhe oferece um precioso mas distante "olá".Ela sorri.Conversam então durante horas,ela mais que ele,falando quase eufóricamente, e a noite vai chegando ao seu ponto final,ele deixa-a para se "enfiar na cama" antes que diga alguma coisa como "gosto de ti" ou "fazes-me falta".
Não faz sentido para ela continuar ali,sente-se só,está a apaixonar-se.
Embebida em todo aquele amor virtual,abre a janela,recebe calorosamente o frio e o vento antes de se deitar,para que deste modo se sinta de alguma maneira possivel:livre.
Cansa-se rápido.Abre com cuidado a porta,talvez para não deixar escapar pormenores do seu mundo,e caminha até à sala de estar(ou campo de guerra,como gosta de lhe chamar) a discussão está acesa,para variar.Pelo meio dos gritos ouve-se a sua voz sóbria e abafada,que suspira um "boa noite" em tom de desprezo.Arevolta atinge-lhe o espirito como um tiro.Quer gritar e chorar ao mesmo tempo,quer rir às gargalhadas para que no campo de guerra saibam o quanto ela despreza aquelas discussões.O sono foi-se.Para abafar e descarregar a sua revolta,canta.É uma forma de descansar,enquanto a melodia sai da sua voz,não pensa,não se tortura,fecha os olhos e esquece-se se tudo...menos dele.Pela primeira vez não consegue esquecer-se de tudo,e isso destroi-a,mas ao mesmo tempo...mata-lhe aos poucos a solidão.
Por hoje chega,pensa ela.Quer dormir,matar a insónia e esquecer que está viva...esquecer-se que quer estar morta.
O telemóvel toca.Recebeu duas mensagens,serão dele?Corre em desespero na esperança de receber na mensagem aquilo que não teve coragem para lhe dizer por msn.Corre na esperança que não esteja a dormir,corre na esperança que ele esteja a pensar nela...que como ela,não consiga esquecê-la.
Chora e sorri ao mesmo tempo...que coisa confusa...talvez amor.