Diário de uma Paixão

domingo, novembro 07, 2004

Morning star_II

II

Estava apaixonada.Não havia nada que pudesse fazer,a não ser tentar.Tinha conhecido à pouco tempo um rapaz que lhe dizia algo,que a cativava...talvez o rapaz da praia lhe tivesse feito lembrar esse outro,que ela tanto adora.Teve o azar de se encantar logo por alguém como ela,cheio de medos e receios...mais inconstante ainda que ela.Disse-lhe as coisas que mais lhe significaram na vida,no entanto permanecia a distância,real e virtual,que o mundo friamente lhes reservava.
Afasta os cortinados.A claridade proveniente da lua e das estrelas enche-lhe o quarto,alimentando a solidão,do lado da janela,senta-se no puf e revê fotos desse ano,das experiencias que passou,das viagens,das pessoas,e continua vazia...
Pensa para si mesma que assim será para sempre,acompanhada apenas por imagens surreais,as pessoas,essas,estarão sempre longe demais,mesmo vivendo a seu lado,jamais alguem conseguirá alcançar o seu mundo...demasiado longinquo.
Aproxima-se do computador,o longo compasso de espera de ligação,põe-na nervosa.Na cabeça voam em turbilhão emoções às voltas,e ele...ele que ela espera desesperadamente online.E lá está ele,quem sabe,esperando por ela,quem sabe tambem ele enclausurado no seu mundo,e os dois juntos à espera de se salvarem.
Neste momento odeia-o,odeia-o porque está mal,odeia-o porque mesmo com um nickname depressivo,chamando à atenção,ele não lhe fala.
Ela, sofre então mais uma vez, e uma lágrima prepara-se para cair,quando ele lhe oferece um precioso mas distante "olá".Ela sorri.Conversam então durante horas,ela mais que ele,falando quase eufóricamente, e a noite vai chegando ao seu ponto final,ele deixa-a para se "enfiar na cama" antes que diga alguma coisa como "gosto de ti" ou "fazes-me falta".
Não faz sentido para ela continuar ali,sente-se só,está a apaixonar-se.
Embebida em todo aquele amor virtual,abre a janela,recebe calorosamente o frio e o vento antes de se deitar,para que deste modo se sinta de alguma maneira possivel:livre.
Cansa-se rápido.Abre com cuidado a porta,talvez para não deixar escapar pormenores do seu mundo,e caminha até à sala de estar(ou campo de guerra,como gosta de lhe chamar) a discussão está acesa,para variar.Pelo meio dos gritos ouve-se a sua voz sóbria e abafada,que suspira um "boa noite" em tom de desprezo.Arevolta atinge-lhe o espirito como um tiro.Quer gritar e chorar ao mesmo tempo,quer rir às gargalhadas para que no campo de guerra saibam o quanto ela despreza aquelas discussões.O sono foi-se.Para abafar e descarregar a sua revolta,canta.É uma forma de descansar,enquanto a melodia sai da sua voz,não pensa,não se tortura,fecha os olhos e esquece-se se tudo...menos dele.Pela primeira vez não consegue esquecer-se de tudo,e isso destroi-a,mas ao mesmo tempo...mata-lhe aos poucos a solidão.
Por hoje chega,pensa ela.Quer dormir,matar a insónia e esquecer que está viva...esquecer-se que quer estar morta.
O telemóvel toca.Recebeu duas mensagens,serão dele?Corre em desespero na esperança de receber na mensagem aquilo que não teve coragem para lhe dizer por msn.Corre na esperança que não esteja a dormir,corre na esperança que ele esteja a pensar nela...que como ela,não consiga esquecê-la.
Chora e sorri ao mesmo tempo...que coisa confusa...talvez amor.

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