Diário de uma Paixão

segunda-feira, outubro 25, 2010

Diartroanfiartroses

Um dia destes vou beber um copo e dizer que é só um, com vontade de beber mais 15.Vais beber mais uns e decidir-te a fazer alguma coisa sem medo, nem tremeliques nos ossos do carpo.Vais ler um bom livro,que ninguém à tua volta sabe apreciar e pensar que és a personagem principal, mesmo que isso não signifique bom presságio.
Um dia destes vais ler o teu signo e acreditar na astrologia,ainda mais do que acreditas na artrologia,que diga-se de passagem não é a tua praia.
Vais fazer uma visita a um grande estádio de futebol,e apesar de não seres nenhuma Cristiana Reinalda,vais sentir-te a melhor,sem tremores,sem dúvidas,sem arrependimentos.
Está nas tuas mãos a escolha do dia.

segunda-feira, outubro 11, 2010

O ninho

Tive sempre no cantinho do meu cérebro que engendra os planos mais rebuscados,comprar casa.Talvez porque o meu avô o fez quando veio para Portugal,e criou um lar seguro para ele e para a família.Nem tudo correu como ele planeava,é verdade,mas eu gosto de pensar de vez em quando em tirar um desses planos do armário.Aprendi cedo que investir era a segurança do futuro.Investir em estudar,crescer,apreciar,lutar e principalmente,aprendi a ter planos.
O mais importante já o concretizei,hoje foi o segundo e no final do mês o terceiro também se há-de concretizar.
A casa é o sitio mais importante do mundo para mim,é onde me sinto segura,onde gosto da chuva e do vento.Pode tudo ruir que ela está lá,à minha espera todos os dias.
Não fui à Disneyland,não fui para Angola dar aulas nem tão pouco fui à faculdade.Ainda.
Encontrei o que queria,e estou a construir o meu ninho sem passarinhos.
Quem diria que as coisas pequeninas também nos preenchem?
Continuo a querer ir à Disneyland e a Angola,continuo a querer estudar mais e todas as coisas que ambiciono,mas o que realmente preciso para viver até aos 100 anos,já tenho.
Gostava de acreditar que ele vê.

2 também são uma família.

domingo, outubro 10, 2010

IN

Os prefixos são por vezes duas letras que fazem tanta diferença acrescentados a uma palavra.

quinta-feira, outubro 07, 2010

Outono mudo

A urgência é grande,a de ter mais tempo.De ter poder para virar o ponteiro,de voltar atrás e na mesma rua observar os pormenores.Já há folhas castanhas no chão mas ainda há verdes no ar.Ainda vejo chinelos a chapinhar na humidade do dia,conversando com saltos de botas ansiosas.
Ignoro a ignorância que é ignorar uma folha seca,o seu gemido na calçada,o seu grito no degrau perto de casa e a imponência da mãe que a vê morrer,para reencarnar no Outono seguinte.
Eles passam apressados e frios de vareta na mão,inutilizada,esfaqueiam a folha inocente e prosseguem o seu percurso,eles seguem e não sabem nada.A buzina ensurdecedora acalma a culpa,o musculo que se esforça para acompanhar o nervo não adormece,a nuvem que calada está,muda fica.
Quem não sabe apreciar o Outono não sabe o que é viver.

segunda-feira, outubro 04, 2010

O Escuro

O escuro é uma língua que se fala,sem país ou identidade.É um símbolo,chama-se-lhe o que se souber,e eu chamo-lhe língua.
Falo escuro como falo português,já fui melhor,já fui pior.Quase não tive de esperar para aprende-la,não há escola ou professor que a venda em livros.Quase que se lhe toca,quase que se cheira,quase que...Nunca completamente.
Não é chinês nem árabe,não se escreve ao contrário,aliás,muito pelo contrário,é direita como uma linha de horizonte perfeita.Irritantemente geométrica,tão geométrica que a sua ilusão de óptica nos faz querer em linhas tortas,e isto nada tem a ver com deus,Deus,ou sequer dEUS.Nenhum dos 3 me enche as medidas.O escuro não nos rodeia,preenche-nos.
Fecho as cortinas do meu cabelo negro e é lá que falo a minha língua.

A perfeição nunca está ao alcance de qualquer criatura,e o escuro,também não.