NAE
O NAE morreu.
Quando entrei para o NAE eram meia dúzia de gatos pingados a lutar pelo melhor lugar de costas para a janela e de frente para a acção.Tiravamos fotografias no meio das secretárias e cantavamos musicas no espaço curto entre uma outra chamada,mandavamos clientes para lados obscuros quando não nos ouviam,ganhavamos mal,mas o suficiente para me tirar de casa dos pais e me pagar a mobília barata do quarto e da casa partilhada.Pagou-me os meus all star preferidos e os melhores concertos a que fui,pagou-me muita viagem para o centro do mundo,Lisboa.
O NAE engordou de tal forma que nem 80 pessoas eram suficientes para fazer face ao volume de trabalho,criou-me expectativas,planos,deixou-me morar sozinha e arranjar um gato,deixou-me ter orgulho de mim mesma,por muito insignificante que fosse.
A centena de pessoas tornou-se um excesso,o trabalho uma fome que passou de temporária a efectiva,e tal como dezenas entraram,dezenas saíram,umas para melhor outras nem tanto.Vi gente abandonar o barco e regressar,não era tão mau depois de ver o mundo real.
Ensinou-me a falar com as pessoas,aliás,falar não,comunicar.
Há mais de um ano que se antecede o fim,doença prolongada provada por outrem.Deixou-me,deixei o barco definitivamente há quase um ano com a consciência que não voltava.
As ultimas 2 dezenas de pessoas foram informadas hoje,já com o meu conhecimento,que iam ser distribuídas por outros cais.
Eu sorrio à ironia do mau profissionalismo que causou a sua morte,ao sarcasmo das queixas sem fundamento,e ao futuro que espera aqueles que inocentemente acham que era o pior local de trabalho do mundo.
Hoje o NAE morreu e eu não sou cúmplice.
Adeus, Núcleo de Atendimento Especializado.
Quando entrei para o NAE eram meia dúzia de gatos pingados a lutar pelo melhor lugar de costas para a janela e de frente para a acção.Tiravamos fotografias no meio das secretárias e cantavamos musicas no espaço curto entre uma outra chamada,mandavamos clientes para lados obscuros quando não nos ouviam,ganhavamos mal,mas o suficiente para me tirar de casa dos pais e me pagar a mobília barata do quarto e da casa partilhada.Pagou-me os meus all star preferidos e os melhores concertos a que fui,pagou-me muita viagem para o centro do mundo,Lisboa.
O NAE engordou de tal forma que nem 80 pessoas eram suficientes para fazer face ao volume de trabalho,criou-me expectativas,planos,deixou-me morar sozinha e arranjar um gato,deixou-me ter orgulho de mim mesma,por muito insignificante que fosse.
A centena de pessoas tornou-se um excesso,o trabalho uma fome que passou de temporária a efectiva,e tal como dezenas entraram,dezenas saíram,umas para melhor outras nem tanto.Vi gente abandonar o barco e regressar,não era tão mau depois de ver o mundo real.
Ensinou-me a falar com as pessoas,aliás,falar não,comunicar.
Há mais de um ano que se antecede o fim,doença prolongada provada por outrem.Deixou-me,deixei o barco definitivamente há quase um ano com a consciência que não voltava.
As ultimas 2 dezenas de pessoas foram informadas hoje,já com o meu conhecimento,que iam ser distribuídas por outros cais.
Eu sorrio à ironia do mau profissionalismo que causou a sua morte,ao sarcasmo das queixas sem fundamento,e ao futuro que espera aqueles que inocentemente acham que era o pior local de trabalho do mundo.
Hoje o NAE morreu e eu não sou cúmplice.
Adeus, Núcleo de Atendimento Especializado.