Diário de uma Paixão

sexta-feira, agosto 10, 2007

Crónicas da miuda com insónias

Era uma miuda como outra qualquer.Ligeiramente mais complicada,é de confessar,mas apenas uma miuda.
Dava por si às 4 da manhã no seu quarto,em boxers e camisola de alças finas que lhe caiam pelos ombros como chuva,a ver "o sexo e a cidade",em busca de novos pensamentos.Não aprendia muito mais do que a experiencia já lhe tinha ensinado,porem,há noites mais produtivas que outras.Deitada na sua cama encostada à parede,junto à janela,cama essa por fazer há meses,olhava a tv e as estrelas intermitentemente,como flashes.Essas alturas sabiam-lhe tão bem,que desejava o dia inteiro que anoitecesse,que a escuridão lhe enchesse o quarto e lhe esvaziasse a memória que não a deixava ser aquilo que realmente era,uma miuda.
Ao passar por toda esta magia nocturna,no final de todas as séries,quando já nada dava na tv que lhe dispertasse interesse,dançava.Descia da sua cama desfeita,escorregava pelos lençois amarrotados,e dançava no centro do quarto,de frente para a janela como se esperrasse que alguem a estivesse a ver,algures numa janela longinqua.Era apenas um desejo inocente,que talvez possuísse um pouco de indecencia,que sabia não se concretizar,sabia bem,isso é que importava,aqueles instantes eram breves,não tarda o Sol nascia e com ele a rotina.
Tinha de gravar estes momentos.Num deles,saltou da cama tão depressa que deixou cair a mala onde ia buscar um caderno para escrever,o caderno preto cheio de rasgões.Olhou para o chão branco sujo e viu a sua vida despejada em pedaços,coisas que levava com ela todas os dias e ninguem reparava.Coisas que a descreviam como pessoa,como miuda.O caderno,o leitor de mp3,a caneta,as chaves que tinha um pequeno puzzle com o seu segundo nome,aquele que ela odiava que lhe chamassem.Todas estas pequeninas coisas que saíram daquela mala gritavam o seu nome,a sua identidade.
Num ápice tinham passado 2 horas,o relógio não marcava 5,nem 6 da manhã,marcava as horas de sono que ia ter antes de acordar,de forma a ter tempo de se despachar antes de ir para o trabalho.Para ela,para aquela miuda sozinha,de cabelo rebeldemente despenteado ali naquele quarto,o mundo girava ao contrário,as horas não importavam.Importava o tempo que lhe sobrava para viver o seu próprio mundo de magia,até regressar ao mundo real.E quantas vezes isso significava voltar à Terra com as olheiras mais profundas que o seu pensamento...
Não era nada de especial,não era tão diferente quanto isso.
Era apenas uma miuda com insónias.

3 Comentários:

  • Às 11:05 da tarde , Blogger Hopelandic disse...

    eu vi-te, do outro lado do mundo.

     
  • Às 10:04 da tarde , Blogger SILÊNCIO CULPADO disse...

    Todas as miúdas são especiais porque todas têm em si uma especificidade que as torna únicas. E entre as únicas não tenhas dúvidas de que és especial com toda essa sensibilidade transbordante.

     
  • Às 10:04 da tarde , Blogger SILÊNCIO CULPADO disse...

    Todas as miúdas são especiais porque todas têm em si uma especificidade que as torna únicas. E entre as únicas não tenhas dúvidas de que és especial com toda essa sensibilidade transbordante.

     

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