O puto e a rã
24 anos fresquinhos e um carro em segunda mão a estrear.Nunca um Fiat Punto tinha sido tão venerado.
Era uma tarde de Julho e o calor deslizava pelos vidros como espuma numa imperial,tornava-se impossível ver com nitidez o caminho seco que se seguia pelo meio das pedras e da poeira daquela santa terrinha próxima de Chaves.Não havia nenhuma sobrevivente nas garrafas de água embaciadas que jaziam no carro,e o bocejar constante levou-o a parar.Havia um miradouro próximo,com vista para um campo de golfe,mas ainda assim naquele sitio de coisas mortas e selvagens,tudo parecia longe como uma miragem,e estava de facto longe de ser um deserto.
Aquele barulho que se ouve nas fontes artificiais das lojas de decoração quebrava a temperatura de repente,de onde viria?Longe,pensou ele,com certeza.Na esperança sarcástica de estar errado caminhou mais um pedaço de longitude para dentro daqueles bosques,talvez apenas pela sombra sedutora que possuíam.
Tudo parecia em sépia,ou como nos filmes de Tarantino,pouco falso,pouco real.Em segundos só viu o volante a bater-lhe contra o nariz e a cor vermelha à sua frente,ouvia-se um barulho irritante e agudo que não parava,e de repente tudo era negro.Sucumbiu ao calor daquele dia de Verão e não parou a tempo,mas era como se sonhasse,não compreendia como era possível ter batido com o carro numa árvore tão gorda,era impossível não a ver,era absurdo!Pois é...Acontece aos melhores.
Há sempre partes dos pesadelos que são realmente reais,talvez não a cores e em directo,não me lembro de alguma vez ter tido um sonho a cores,mas há coisas reais neles,esses malditos,os sonhos.
Coitado do Punto,ficou enterrado numa espécie de lago lamacento no meio do arvoredo e tira-lo de lá não estava para breve.Restavam-lhe 7 pecadoras horas de conversa com a rã que não calava,até ao nascer do Sol,e assim foi.
A rã foi a sua irritante e única companhia na espera pela luz do dia e sua saída dali para fora.Qual trânsito,qual poluição...Havia natureza em forma viva,mais que viva!Estava dentro dele,misturada com o seu sangue.Era ela dentro dele e vice versa,estava vivo pela primeira vez,e por instantes quase foi sapo,mas tudo acaba e o dia acabou por regressar,levando quase por impulso o quase-que-sapo de volta à sua cidade cinzenta,e a rã de luto por sua falta,continuou o seu canto sem cessar,até uma outra noite,em que os sonhos o trouxessem de volta ao único sitio onde era inteiro.
...E noite após noite o rã continuava o seu luto enquanto aguardava o regresso do miúdo.
Era uma tarde de Julho e o calor deslizava pelos vidros como espuma numa imperial,tornava-se impossível ver com nitidez o caminho seco que se seguia pelo meio das pedras e da poeira daquela santa terrinha próxima de Chaves.Não havia nenhuma sobrevivente nas garrafas de água embaciadas que jaziam no carro,e o bocejar constante levou-o a parar.Havia um miradouro próximo,com vista para um campo de golfe,mas ainda assim naquele sitio de coisas mortas e selvagens,tudo parecia longe como uma miragem,e estava de facto longe de ser um deserto.
Aquele barulho que se ouve nas fontes artificiais das lojas de decoração quebrava a temperatura de repente,de onde viria?Longe,pensou ele,com certeza.Na esperança sarcástica de estar errado caminhou mais um pedaço de longitude para dentro daqueles bosques,talvez apenas pela sombra sedutora que possuíam.
Tudo parecia em sépia,ou como nos filmes de Tarantino,pouco falso,pouco real.Em segundos só viu o volante a bater-lhe contra o nariz e a cor vermelha à sua frente,ouvia-se um barulho irritante e agudo que não parava,e de repente tudo era negro.Sucumbiu ao calor daquele dia de Verão e não parou a tempo,mas era como se sonhasse,não compreendia como era possível ter batido com o carro numa árvore tão gorda,era impossível não a ver,era absurdo!Pois é...Acontece aos melhores.
Há sempre partes dos pesadelos que são realmente reais,talvez não a cores e em directo,não me lembro de alguma vez ter tido um sonho a cores,mas há coisas reais neles,esses malditos,os sonhos.
Coitado do Punto,ficou enterrado numa espécie de lago lamacento no meio do arvoredo e tira-lo de lá não estava para breve.Restavam-lhe 7 pecadoras horas de conversa com a rã que não calava,até ao nascer do Sol,e assim foi.
A rã foi a sua irritante e única companhia na espera pela luz do dia e sua saída dali para fora.Qual trânsito,qual poluição...Havia natureza em forma viva,mais que viva!Estava dentro dele,misturada com o seu sangue.Era ela dentro dele e vice versa,estava vivo pela primeira vez,e por instantes quase foi sapo,mas tudo acaba e o dia acabou por regressar,levando quase por impulso o quase-que-sapo de volta à sua cidade cinzenta,e a rã de luto por sua falta,continuou o seu canto sem cessar,até uma outra noite,em que os sonhos o trouxessem de volta ao único sitio onde era inteiro.
...E noite após noite o rã continuava o seu luto enquanto aguardava o regresso do miúdo.
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