O outro lado
Gosto do barulho das ruas,seja onde for.Sempre o apreciei.
Começou por Cascais,quando saía sozinha sem saber para onde.Não havia muito por onde escolher,então seguia quase sempre o mesmo aroma até me sentir confortável o suficiente para cessar a minha busca.A busca do ser,alguns lhe chamam,eu chamava-lhe caminho para casa,e a casa nunca era uma casa,era um cheiro,um liquido,uma musica.Ia sempre parar ao mar e à areia,ou à grande cidade.Saboreava cada kilometro que o comboio fazia,cada paragem,cada personagem que entrava na carruagem e a cada uma delas pressentia o descarrilamento.Imaginava o que seria de mim ao morrer ali,quem sentiria a minha falta,o país que ainda não tinha visitado,a areia que ainda não tinha pisado,o shot que ainda não tinha bebido...Aquelas coisas que claramente toda a gente pensa quando faz uma viagem de 40 minutos.Ou não.
Sempre foi assim,ainda não sabia ler e já acordava para me sentar na beira do sofá a perguntar ao abanar das árvores a meteorologia.Engraçado,eu tinha a minha própria meteorologia na cabeça,estava sempre frio e cinzento,sempre com uma pontinha de sol que não chegava ao orgasmo,sempre um santuário vazio algures em Tóquio que aguardava a minha chegada.
Gosto do barulho dos carros no piso molhado e do tom enevoado com que as pessoas vão falando na rua,enquanto imagino as suas vidas desde os seus traumas às suas noites loucas de sexo.Sinto-me promiscua e especial,sinto-me esquecida no mundo,ou simplesmente fora do meu tempo.
Descrevo lentamente assim como quem espreme uma laranja,mas não deito cascas fora,que desperdício deitar pormenores ao lixo!Eu vivo para os pormenores.No meu ver a minha vida é um filme sem realizador,a minha vida resume-se ao saco de plástico de supermercado a esvoaçar contra uma parede,a fazer amizades com folhas de Outono.O meu filme não seria um Fernando Pessoa,porque eu sou só uma e só eu sou completa.Nunca consegui dividir-me em gomos,nem mesmo preencher um copo de sumo.Sou uma espécie de colher sem conteúdo.
Há instantes que passam depressa demais e este é um deles,tive um vislumbre fugaz da existência do todo.
Todo o ser pode morrer se assim o estiver,bem esclarecido acerca da existência do seu próprio mundo.
Penso naquela remota possibilidade que vou ter de um dia me sentar no baloiço de jardim a escrever sem pensar em horas ou vícios,sem pensar no que está fora do meu boletim meteorológico.Uma espécie de Joe Black sem corpo de Brad Pitt. Fico parada na minha cabeça enquanto as pernas vão andando desengonçadas como que empurradas pelo vento,e fujo daqui para fora para o final dos anos 60,a ouvir Led Zeppelin vestida de caxemira de florzinha no cabelo.
Era tão bom...Se ao menos houvesse mais paredes cor-de-rosa nas ruas do mundo como há no meu mundo.
Era tão bom...
Começou por Cascais,quando saía sozinha sem saber para onde.Não havia muito por onde escolher,então seguia quase sempre o mesmo aroma até me sentir confortável o suficiente para cessar a minha busca.A busca do ser,alguns lhe chamam,eu chamava-lhe caminho para casa,e a casa nunca era uma casa,era um cheiro,um liquido,uma musica.Ia sempre parar ao mar e à areia,ou à grande cidade.Saboreava cada kilometro que o comboio fazia,cada paragem,cada personagem que entrava na carruagem e a cada uma delas pressentia o descarrilamento.Imaginava o que seria de mim ao morrer ali,quem sentiria a minha falta,o país que ainda não tinha visitado,a areia que ainda não tinha pisado,o shot que ainda não tinha bebido...Aquelas coisas que claramente toda a gente pensa quando faz uma viagem de 40 minutos.Ou não.
Sempre foi assim,ainda não sabia ler e já acordava para me sentar na beira do sofá a perguntar ao abanar das árvores a meteorologia.Engraçado,eu tinha a minha própria meteorologia na cabeça,estava sempre frio e cinzento,sempre com uma pontinha de sol que não chegava ao orgasmo,sempre um santuário vazio algures em Tóquio que aguardava a minha chegada.
Gosto do barulho dos carros no piso molhado e do tom enevoado com que as pessoas vão falando na rua,enquanto imagino as suas vidas desde os seus traumas às suas noites loucas de sexo.Sinto-me promiscua e especial,sinto-me esquecida no mundo,ou simplesmente fora do meu tempo.
Descrevo lentamente assim como quem espreme uma laranja,mas não deito cascas fora,que desperdício deitar pormenores ao lixo!Eu vivo para os pormenores.No meu ver a minha vida é um filme sem realizador,a minha vida resume-se ao saco de plástico de supermercado a esvoaçar contra uma parede,a fazer amizades com folhas de Outono.O meu filme não seria um Fernando Pessoa,porque eu sou só uma e só eu sou completa.Nunca consegui dividir-me em gomos,nem mesmo preencher um copo de sumo.Sou uma espécie de colher sem conteúdo.
Há instantes que passam depressa demais e este é um deles,tive um vislumbre fugaz da existência do todo.
Todo o ser pode morrer se assim o estiver,bem esclarecido acerca da existência do seu próprio mundo.
Penso naquela remota possibilidade que vou ter de um dia me sentar no baloiço de jardim a escrever sem pensar em horas ou vícios,sem pensar no que está fora do meu boletim meteorológico.Uma espécie de Joe Black sem corpo de Brad Pitt. Fico parada na minha cabeça enquanto as pernas vão andando desengonçadas como que empurradas pelo vento,e fujo daqui para fora para o final dos anos 60,a ouvir Led Zeppelin vestida de caxemira de florzinha no cabelo.
Era tão bom...Se ao menos houvesse mais paredes cor-de-rosa nas ruas do mundo como há no meu mundo.
Era tão bom...
1 Comentários:
Às 3:38 da manhã , Anónimo disse...
É solidão, se transformará em depressão, seu hipotalamo descarregará adrenalina e insulina para seu sangue, este se tornará envenenado, seu colesterol aumentará, surgirá câncer, e outras doenças... você morrerá !
Tchau
vanderlei
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